Faro e os seus habitantes

És de Faro, és farense. É uma das inscrições mais frequentes nas paredes da capital algarvia. E essa frase tão simples, se calhar, define melhor a gente local. Embora a cidade tenha aspeto relativamente moderno, a tradição e os hábitos parecem ser mantidos de geração em geração. Esse sentido de identidade profunda com as origens e património é bem visto no dia a dia dos farenses. Durante os cinco meses que morei em Faro, tive oportunidade de observar várias atitudes e hábitos dos seus habitantes. Faro, Albufeira e Portimão, há muitos anos que constituem locais de lazer preferidos de milhares de turistas, nomeadamente, os dos países mais ricos da Europa. Sem dúvida alguma, uma das causas que mais os atrai são os mais de 300 dias de sol durante ano. Por isso mesmo o Algarve deveria ser aconselhado a todos que sofrem de depressão. De facto, o turismo é o aspeto crucial de desenvolvimento de toda a região. Daí vem a já referida modernidade que se reflete num panorama infinito de hotéis. Portanto, dir-se-á que os farenses habituaram-se à presença constante das pessoas de fora. Mas parece que nem sempre é assim. Às vezes, tenho impressão de que já estão um pouco fartos dos estrangeiros. Obviamente, isto não quer dizer que sejam xenófobos. Nada disto. O que acontece é que costumam assumir atitudes diferentes perante os turistas. A maioria dos estrangeiros que vêm para cá, não sabe português. Na verdade, não sabem da missa a metade. Então os farenses (apesar de serem muito simpáticos), podem parecer um pouco antipáticos e até hostis. No entanto, uma palavra em português chega para se transformarem nas pessoas mais benevolentes do mundo. Quanto a mim, acho que estou numa posição um bocado privilegiada por causa do meu aspeto, porque os portugueses nem sempre reparam que sou estrangeiro, aliás, só é assim até ouvirem o meu sotaque. Já experimentei que essa antipatia a que me referi antes é só aparente. Se calhar, isso foi o motivo que me incentivou para começar a dar dois dedos de conversa com eles. E nunca me dececionei, sempre me responderam com benevolência. As pessoas em Faro são muito sociáveis. 
   Quanto aos lugares onde os farenses costumam encontrar-se, omitindo as inúmeras pastelarias e cafeterias, um dos mais emblemáticos é um bar que todos os dias reúne os adeptos mais idosos da equipa local. Sem dúvida, muitos deles recordam com muitas saudades a temporada 1994/1995, quando o seu querido SC Farense culminou no quinto lugar na primeira divisão e classificou-se para a Taça UEFA. Foi o maior êxito da equipa algarvia até então. Outro lugar de destaque, desta vez frequentado por pessoas de todas as idades, é o CheSsenta bar. Durante a semana, apresentam-se ali os músicos locais que compartem com os ouvintes o melhor da música portuguesa. Assim conheci a criação musical de Zeca Afonso, Jorge Palma ou Rui Veloso. 
      Voltando à questão que abordei no princípio, nos últimos meses, as inscrições nas paredes dos edifícios no centro da cidade tornaram-se ainda mais visíveis. O que é óbvio, isto tem a ver com a crise que inquieta os portugueses. De facto, por todo o lado há uma <GREVE GERAL> escrita em cor vermelha.  Em alguns lugares podem observar-se palavras de ordem que encorajam a uma espécie de rebelião social contra o governo. No entanto, a sociedade algarvia não respondeu de uma maneira explícita às manifestações outonais, pois nos desfiles participaram relativamente poucas pessoas. Parece que uma parte da sociedade algarvia encontrou outra maneira de enfrentar a crise. É a formação. Durante o último semestre estudei na Universidade do Algarve. Para minha surpresa, na minha turma havia muitas estudantes de quarenta e tal anos. Muitas delas já eram professoras mesmo nesta universidade. Mas dado que sabiam só inglês, foram destituídas. Portanto decidiram começar o curso de espanhol. A conclusão é simples. A sociedade com maior nível de educação é a melhor arma na luta com o desemprego nesta altura tão difícil. E parece que os algarvios são cada vez mais conscientes disso. 
      No meu caso, esses cinco meses a viver em Faro influenciaram-me de maneira que já me considero um pouco farense. Sem hesitar posso dizer que essa cidade ganhou a minha simpatia desde a primeira vista. Espero que as lembranças dos seus habitantes fiquem comigo para sempre.
Paweł Nowak


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