O Erasmus – um olhar menos entusiástico



  Nos últimos anos tenho observado o programa Erasmus. Foquei-me nas tão famosas e sonhadas oportunidades de passar alguns meses até um ano a estudar noutro país, alargando os seus horizontes sociais e culturais como diz o Guia Prática Eramus. E infelizmente, tendo em consideração algumas observações feitas em torno deste programa, pelo jeito hei de dizer que o Programa Erasmus promete mundos e fundos aos seus estudantes pouco conscientes da realidade. Antes de começar – o meu olhar será um pouco diferente, sendo uma estudante de Filologia, destaco outros benefícios que surgem desta oportunidade.

 A Universidade
   A primeira coisa a fazer depois de saber o seu país de destino é obviamente procurar  informações sobre a universidade onde se vai  passar uma pequena parte da sua vida. Normalmente, depois de um certo entusiasmo ao saber que se ganhou  uma oportunidade tão grande, a segunda coisa a fazer é cair das nuvens. Um estudante caí das nuvens procurando  aulas que sejam aproximadamente parecidas com as que tem na sua Universidade. O Eramus, não é só umas testes  fáceis na nova Universidade, mas também os exames que pacientemente esperam para serem passados na Universidade de origem na altura dos exames de segunda época. Esta etapa de Erasmus poderia ser menos difícil caso os professores não dificultassem a vida dos estudantes que estiveram fora  algum tempo (e normalmente é o que acontece). Então, a boa escolha das aulas na sua nova Universidade terá impacto direto só no regresso.
Ficando ainda no ambiente das aulas, vale a pena adicionar que há universidades nas quais um estudante de Eramus é tratado como uma certa distinção e aproveitando disso, a sua estadia parece mais umas  férias extensas de que um período no ano académico. Mas existem instituições onde não há uma diferenciação entre estudantes estrangeiros ou nativos – estudar é estudar e obrigações são para todos.

O dinheiro
   Uma das temáticas mais problemáticas para os estudantes que vão estudar fora. Embora possam usufruir de algum apoio financeiro para fazer face às despesas de estudar e viver num país estrangeiro, mesmo assim – o Erasmus não é para todos.  O valor da bolsa oferecida pela universidade depende sempre do número de meses de permanência e na maioria dos casos equivale a tuta e meia. Esse apoio não basta para cobrir todos os custos que um aluno terá durante a sua permanência no estrangeiro. Falando da bolsa é difícil traçar um cenário de otimismo. Para comprová-lo, basta só mencionar os números das bolsas que foram oferecidas a um grupo de alunos da nossa Universidade que são bolseiros Erasmus agora. Questionados, se o dinheiro que receberam do Programa supre as suas necessidades básicas, todos respondem em uníssono que não. Sem a mãozinha dos pais ou outros fundos seria até impossível viver só da bolsa.

O pessoal
   Não se pode de forma alguma dizer que a participação no Programa Erasmus não abra as portas a uma exploração cultural e linguística. Mas a decisão de começar esta interação varia de estudante para estudante consoante o seu objetivo.  O grupo Erasmus é um grupo restrito no qual os participantes costumam passar um certo tempo juntos e assim  não interagindo muito com os nativos, sendo só solicitados apenas em informações básicas. A língua predominante neste grupo é o inglês e isso põe em cheque um estudante de filologia por exemplo ibérica. Aparentemente não há nenhum obstáculo para fazer amizades com os nativos, mas na verdade é que poucos deles estão interessados em fazer novos amigos que logo irão embora.O outro problema que surge no quotidiano é a diferença de interesses – os nativos tendo uma possibilidade de praticar o inglês preferem utilizá-lo por ser uma língua muito comercial. Isso acontece muitas vezes nos locais públicos do centro de cidade. Parece que um estudante que queira praticar a língua de um país em que está a fazer o programa, tem que ir a uma lojinha bem velha e pequena nos arredores da cidade para praticar eficazmente umas conversas quotidianas.

  Em suma, espero ter contribuído para uma visão mais realista de que é ser bolseiro Erasmus. Se alguém realmente quer usufruir deste período no estrangeiro tem que se dedicar mais porque a descoberta de um novo mundo será sua e não dos nativos. Claro que também é possível passar este tempo de uma maneira ótima com os outros erasmuses, mas a questão é que se neste período não se perde a oportunidade de tirar o máximo proveito que oferece o Programa Erasmus.

Katarzyna Szypura

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