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A mostrar mensagens de maio, 2014

Boinas de mohair

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“Boinas de mohair”. Conheces este termo? Se vives na Polónia com certeza que sim. Ilustra de forma estereotipada  a vida das pessoas idosas na Polónia. O passeio até à igreja é a única diversão das velhotas? Vou tentar convencer- te que não. Em cada grupo etário podemos encontrar os que aproveitam a vida e os que só existem. Há uma grande parte dos estudantes para os quais a vida é sempre difícil, os professores são maliciosos, as aulas são demasiado cedo ou pelo contrário demasiado tarde, as raparigas mentem, os rapazes traem, não há dinheiro, não há trabalho, mas felizmente há álcool, então vamos beber. Porque não? Afinal não há trabalho e a noite é curta, a festa é só o que nos restou, no nosso país não há perspetivas nenhumas para nós, só esta festa...  Conheces este modo de pensar? Encontramos a mesma situação entre as pessoas idosas. É verdade que não têm muito dinheiro, é verdade que os cuidados de saúde não são dos nossos sonhos, que na Alemanha vive-se melhor, que os refo

O Silêncio (II)

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Foi pedido aos estudantes do 2º ano de Filologia Ibérica que, depois de lerem o conto "O Silêncio", escrevessem a continuação da história, um novo final. O texto integral do conto de Sophia de Mello Breyner Andresen pode ser lido aqui:  "O Silêncio" Dentre os trabalhos do alunos foram escolhidos os melhores e hoje é publicado o segundo: Pela primeira vez a Joana sentiu-se assim. Entrou na cozinha, pôs a água na chaleira e colocou-a sobre o fogão como se quisesse turvar o silêncio que a rodeava. Pela janela aberta observou o céu constelado, que agora lhe parecia sinistro e tenebroso. O grito desta mulher tocou-lhe muito profundamente. Não sabia exatamente o que se passou no seu interior, mas tudo assumiu alguma outra perspetiva. Isto, o que até hoje lhe parecia a tranquilidade e o alívio, agora era para ela uma estabilização fingida e rotineira, a qual há muitos anos conseguiu atingir. O som do apito da chaleira despertou-a da reflexão. Era já tarde e ela c

“Aiii, crianças, crianças...”

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“Aiii, crianças, crianças...” – acho que não há pessoa que nunca ouviu este desabafo da boca dos seus pais. Não restam dúvidas de que ele sempre vai constar da lista das frases favoritas dos nossos pais das que todo o mundo se vai lembrar sempre com carinho. Apesar disso, eu pessoalmente nunca soube o porquê dessas palavras. E nunca pensei que as usaria pela primeira vez num país tão remoto e dirigidas às crianças que não fossem os meus filhos. Até setembro de 2013 eu tinha bastante contato com crianças porque trabalhei numa escola de idiomas. Elas sempre me davam muita alegria e faziam com que me sentisse necessária. Sabia perfeitamente que podia não somente ajudá-las mas também aprender algo com elas. Mas, em setembro de 2013 eu conheci uma nova dimensão da palavra “professor” e “criança”. Na verdade, tudo começou quando decidi passar um semestre no Brasil como estudante de intercâmbio que funciona devido ao acordo entre a UMCS em Lublin e a UNIJUÍ em Ijuí. Os meus professores diss

Relações entre Portugueses e Marroquinos após a tomada de Ceuta (1415)

A origem da presença portuguesa em Marrocos tinha vários fatores, tanto políticos, como econômicos ou religiosos. Um destes fatores foi a consolidação da independência portuguesa no contexto da Península Ibérica. A reconquista árabe da Península entrou em declínio a partir do ano 1250 quando os muçulmanos perderam a cidade de Córdoba. Até ao ano 1492 o último território peninsular, Granada, ainda estava na posse dos muçulmanos. A primeira conquista pelos Portugueses da cidade norte-africana de Ceuta foi realizada no ano 1415. No olhar português, a tomada do Norte de África foi um grande triunfo perante Castela e o Papado. De fato a reconquista de África foi prevista a partir do século XIII e de acordo com várias regras européias ia ser uma invasão legítima porque a ocupação do Reino de Fez e de Marrocos seria vista como reconquista e a luta contra os infiéis. A cruzada contra os Mouros foi um grande desejo tanto do papa como dos Franciscanos e Dominicanos. O fato da tomada de Constant

1º Concurso Literário do CLP/Camões em Lublin

REGULAMENTO Introdução  A ideia de criar este concurso literário surgiu como forma de incentivar a criatividade literária entre os falantes não nativos de português, bem como o gosto pela escrita em português. Artigo 1.º   O Concurso Literário é aberto a falantes não nativos, excluindo assim cidadãos de nacionalidade portuguesa, e ainda cidadãos naturais de países de língua oficial portuguesa. O concurso é, entenda-se, aberto não só a residentes na Polónia. Aos membros do júri é vedada a participação bem como aos seus familiares diretos.  Artigo 2.º O Concurso Literário destina-se a premiar trabalhos inéditos na modalidade de conto.  Artigo 3.º Cada concorrente poderá apresentar apenas um trabalho. Artigo 4.º Os trabalhos a apresentar serão subordinados às seguintes normas: a)   O texto obrigatoriamente redigido em língua portuguesa, original e inédito, deverá ter um mínimo de duas páginas e um máximo de seis páginas, com espaçamento duplo entre as linhas e tip

Em busca do amor perdido (3)

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O amor reencontrado  São Paulo São Paulo é uma cidade enorme, imponente, a maior na América do Sul com quase 12 milhões de habitantes. É com muitos arranha-céus a mais alta no país. O panorama de construções sem fim pode-se observar do chamado Terraço Itália que funciona no 41° andar do segundo maior edifício da cidade. Para mim atingiu uma proeminência especial no mapa do Brasil por várias razões. É a minha capital mais recente e provavelmente definitiva do país – a capital da cultura. Neste sentido, encontrei lá tudo para satisfazer o meu apetite. Mas apesar dos shows , museus (da Língua portuguesa, do Futebol, de Arte Contemporânea, de Arte de São Paulo, entre outros), cinemas, livrarias enormes, foram de novo as pessoas que me deixaram reencontrar a sensação de pertença na terra da garoa. Passei na capital paulista um mês e pouco sem uma conversa em polaco com pessoa em carne e osso. Gosto de aprender sem compulsão, mas não há melhor impulso de usar uma líng

O Silêncio

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Foi pedido aos estudantes do 2º ano de Filologia Ibérica que, depois de lerem o conto "O Silêncio", escrevessem a continuação da história, um novo final. O texto integral do conto de Sophia de Mello Breyner Andresen pode ser lido aqui:  "O Silêncio" Dentre os trabalhos do alunos foram escolhidos os melhores e hoje é publicado o primeiro: Depois deste acontecimento, Joana não podia encontrar nenhum lugar em casa para poder tranquilizar-se. O sentido da alienação era tão grande que se sentiu como uma pessoa que tinha perdido tudo o que amava. O tempo passava lentamente, cada pancada do relógio provocava na sua alma um ataque de receio, pânico. As coisas que antes causavam felicidade agora contribuem para uma explosão de ira e de irritação. Joana não podia encontrar uma resposta lógica para o seu comportamento.  Quase todos os dias era uma muda testemunha de situações semelhantes. Mas o grito desta mulher era diferente. Era cheio de dor profunda, uma dor tão