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A mostrar mensagens de março, 2015

Dois dedos de conversa com... Michał, luthier.

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Chama-se Michał, tem 30 anos, é de Białystok. Estudou em Lublin mas agora vive e trabalha em Varsóvia. É uma pessoa normal, psicólogo. O que o faz e xtraordinário é o seu passatempo que está a converter na sua nova profissão. É um luthier, faz instrumentos de corda.  Para ser mais concreto – um tipo de instrumento com seis (ou sete) cordas e caixa-de-ressonância, parecido ao violoncelo, mas com trastos. Uma viola da gamba, instrumento barroco com som muito agradável, mas não tão popular como o violoncelo ou contrabaixo – algo a meio caminho entre estes dois. Michał não tem nenhuma preparação profissional para isso. É um luthier autodidata. A ideia de fazer instrumentos nasceu num festival da música folclórica em Lublin onde viu um homem com instrumentos feitos de madeira, de latas, de peças metálicas... Tinham forma estranha, mas produziam som, mesmo uma melodia gira. Isso mostrou-lhe que se pode fazer uma coisa dessas por si mesmo. Assim começou a pensar em fazer algum i

O conto da Mosca Muda sobre o Mordedor

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- A Mosca Muda vai contar a sua história – decidiu a Aranha de Duas Cabeças e o resto dos bichos assentiram cheios de alegria. Poder sentir as feromonas da Mosca Muda, que, desde que entrou no grupo com a sua companheira Aranha, não disse nenhuma palavra, era uma tentação muito grande. O inseto moveu o seu probóscide num gesto de consentimento e soltou as primeiras palavras. Era uma história dos tempos passados, quando ainda os monstros caminhavam pela terra e não havia Grandes Ninhos. Entre os seres racionais reinava a lei mais antiga de todas as leis antigas, presente ainda antes da velha Lei do Poder. A esquecida Lei da Morte. - Uma família da minha espécie, eu não provenho dela, mas conheço outras moscas que sim, viajava pelo céu, como nós temos a costume e não seria nada de especial se não chegasse, seguramente por casualidade, até o fim do mundo. Não era o fim do mundo verdadeiro, afastado, vazio e sem nenhuma coisa para comer. Era um extremo mais próximo. Não tinha areia

O vegetarianismo aos olhos dos carnívoros

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Há quase quatro anos que sou vegetariana e estou muito orgulhosa da minha decisão. Isso significa que não como os animais (sim, os peixes também pertencem a este grupo), não compro os produtos de couro, por exemplo os sapatos, e não compro os cosméticos testados em animais. Para tomar essa decisão tive de pensar muito nas vantagens e desvantagens da dieta vegetal, li muitos livros sobre esta temática e falei com os vegetarianos que conhecia. Quando fiz  18 anos decidi oferecer a mim mesma a melhor prenda de todas e tornei-me vegetariana. O meu primeiro motivo para fazer isso foi a grande sensibilidade, o amor aos animais e a vontade de viver em harmonia comigo mesma e com o mundo inteiro. Inicialmente a minha família não ficou muito surpreendida porque pensavam que era só uma das minhas ideias loucas que ia fracassar. Pensavam que em algum momento eu ia aborrecer-me  da ideia de melhorar o mundo e que ia voltar à mesa posta de filete de carne com batatas, mas isso nunca acontece

Ecce árvore!

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Eram 9 da manhã. Nenhum raio de sol, nenhum sorriso nas caras dos pedestres na rua. Naquele dia, Lublin era mesmo muito feia. Não estavam mais que 4 graus acima de zero, nem havia esperanças que a Primavera cedo chegasse. Mas o que mais importava, era a chuva constante que não parava! Estava a chover para caraças! Já disse como detesto a chuva? Aquele líquido repugnante que descaradamente costuma cair no chão, sem qualquer permissão, e que não nos permite pensar logicamente? Pronto. Além disso não trazia comigo nenhum guarda-chuva. Nunca trago, mas a razão é muito óbvia. Simplesmente não posso descer ao nível da chuva, tentando lutar com ela como se eu fosse um Don Quixote que achava que poderia ganhar contra os moinhos de vento. Que tola que era... Mas pronto. Ainda faltavam muitos metros ou até quilómetros para atravessar estas flutuantes e mega sujas ruas de Lublin, por isso precisava, mas precisava mesmo de um plano que me ajudasse a sobreviver neste momento traumático.  Dec

‘PRZYSTANEK WOODSTOCK’ – o paraíso na terra ou um caminho para o inferno?

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PrzystanekWoodstock    é um festival musical organizado na Polónia há 20 anos. O seu nome é derivado do lendário festival Woodstock e da série da televisão dos anos 90 – Przystanek Alaska ( No Fim do Mundo ). O festival é organizado anualmente para cumprir o seu objetivo principal, ou seja, para agradecer aos voluntários que ajudam e colaboram com a Wielka Orkiestra Świątecznej Pomocy (ONG polaca que desde 1993 já angariou cerca de 140 milhões de euros usados na compra de equipamento hospitalar). O festival, tem lugar em Kostrzyn nad Odrą, e é completamente gratuito. Embora Przystanek Woodstock seja considerado por muitos o melhor festival no mundo, não faltam as pessoas que criticam este evento. O que é tão especial no Woodstock que provoca tantas controvérsias? Pagão, satânico, escandaloso, cheio de bêbedos e drogados...esta é a  visão estereotipada do Woodstock. Segundo muitas reportagens ficamos a saber que este evento é um lugar de barulho insuportável, poeira, fedor, onde a

Adelaide Cabete

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"Uma vida inteira devotada à prática do bem, especialmente à dignificação da mulher" Elina de Guimarães ( Escritora e jurista portuguesa ,  diretora do Conselho Nacional das Mulheres Portuguesas) O século XX carateriza-se pela existência de considerável número de personalidades que, de algum modo, deixaram uma marca profunda na história de Portugal e que devem ser conhecidas pelas novas gerações. Políticos, revolucionários, cientistas ou artistas. Ao longo do tempo, houve homens e mulheres que se destacaram e ajudaram a criar o mundo de hoje.      Uma destas figuras, talvez pouco conhecida e esquecida, foi Adelaide de Jesus Damas Brasão Cabete, uma grande feminista e militante na defesa da emancipação das mulheres nos vários movimentos e iniciativas em que esteve envolvida. Destacou-se como pioneira da Medicina em Portugal, lutadora pela República, pelos direitos das crianças e dos animais, educadora, publicista, socióloga, humanista.      Nasceu

Fernando Pessoa e Lisboa

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A primavera de 1905 chegou a Lisboa com antecedência. Os raios de sol acariciavam as caras dos transeuntes, o ar fresco dava voltas por toda a cidade começando por Alfama e chegando até os arredores, e logo pelo resto de Portugal. Este ar da primavera refrescante trazia consigo o triste sentimento de saudade que só aumentava a beleza desta cidade. Ah, este cidade é cheia de encanto, uma princesa real. Uma princesa, mais também uma lutadora. Não é fácil levantar-se depois de um terramoto, pensou o rapaz de 17 anos passeando pelas ruas. No seu coração também sentia uma espécie de terramoto. Mas não havia nenhum marquês de Pombal que o ajudasse a levantar-se. De manhã chegou ao porto e desde então estava visitando a cidade que não via há muito tempo. Depois de terminar os seus estudos na África do Sul decidiu mudar-se definitivamente para Lisboa. Aqui quase cada rua o inspirava, cada sopro de vento. Aqui podia escrever. Com somente sete anos, graças ao seu padrasto, teve que deixar