Festejar à portuguesa

A cultura dos países ibéricos para a maioria dos Polacos pode parecer um pouco exótica e cativante. As festas na Polónia incluem sempre uma quantidade enorme de seriedade e de páthos, falta-nos espontaneidade e alegria de celebrar, mesmo quando festejamos os acontecimentos felizes e importantes para nós ou para a nossa pátria. Acho que o motivo  desse estado de coisas é o fato de que os nossos temperamentos polacos são completamente diferentes do dos nossos irmãos ibéricos. A leitura das descrições das festas portuguesas e dos costumes que acompanham esses acontecimentos fazem com que me pergunte, por que razão não podemos encontrar em nós a mesma alegria da vida e a vontade de se reunir, pelo menos de vez em quando, na celebração um pouco menos a sério e da maneira ligeiramente mais descontraída? Aparentemente, a seriedade, a falta de distância perante a vida quotidiana, com a tristeza quase inata já estão demasiado fortemente enraizadas na nossa mentalidade. 
Estas reflexões vieram-me à mente depois de ler alguns textos na Internet sobre a cidade do Porto, como parte das pequenas “preparações“ para a minha viagem a Portugal em maio. Lamento que não terei a possibilidade de participar na festa de São João que, com a festa de São Pedro e a festa de Santo António é celebrada em todos os países lusófonos. O Porto oferece uma variedade de celebrações ligadas ao nascimento do seu padroeiro mas a culminação delas tem lugar na noite de 23 para 24 de junho. Especialmente para essa noite, a cidade é embelezada e decorada, as ruas estão cheias de pessoas, vozes, cores e cheiros. Diz- se que todo o mundo, não importa o sexo, a idade ou a proveniência, se reúne durante essa noite festiva para divertir-se e passar momentos inesquecíveis, tudo acompanhado pela degustação de pratos deliciosos, tipicamente portugueses como sardinhas assadas, caldo verde ou a presença dos vasos de manjericos com os poemas de quatro versos sem esquecer de um pouco de cerveja ou de vinho local.
 As atividades e as tradições ligadas a essa noite igualmente atraem a minha atenção eslava. Gostei especialmente da ideia do lançamento de balões de ar quente que é uma vista espetacular. Também não me posso esquecer da outra tradição que se destaca nessa noite: os martelos de plástico com os quais se bate na cabeça das pessoas aleatórias que passam ou os alhos-porros que se usa da maneira semelhante. Sinceramente, não posso imaginar a implantação da tradição parecida na nossa cultura, embora tente mover a minha imaginação. E vocês, podem imaginar bater alguém na cabeça com o martelo de plástico e a reação possível da pessoa “batida“? :-)
 Gostaria também de ver o famoso fogo de artifício que ilumina o céu à meia-noite em ambos os lados do rio Douro, que é o espetáculo aguardado por todos participantes e que faz parte inseparável dessa noite especial.
 A verdade é que nós Polacos também temos a nossa própria “noc świętojańska“ ou „ noc kupały”, mas, infelizmente, é muito marginalizada e celebra-se só às vezes em que chamamos “skansen“ da maneira menos, digamos, intensiva. Por alguma estranha razão, estamos mais dispostos a implantar algumas celebrações completamente ridículas como, por exemplo, o Halloween, do que desenvolver e valorizar aquelas semelhantes à festa de São João. Atrevo-me a dizer que ela tem um pouco mais de sentido do que usar uma máscara de zombie e acima de tudo - está relacionada com a nossa cultura e com a identidade europeia.

Ewa Szafrańska

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