Anita Garibaldi, uma heroína com todas as letras

 


O amor foi a ponto de partida. O amor pelo seu homem, o amor que ela via o prolongamento do amor por sua terra e por sua gente, todas as terras e todas as gentes do mundo.
É fácil destacar a coragem do Giuseppe Garibaldi, seu romantismo épico, a multidimensão de sua figura, o mundo que ele desenhou com a sua espada. Menos fácil é compreender Anita, uma pequena mulher brasileira, sem mais preparo que aquele alcançado na própria luta. Mãe - como ela dignificou esta palavra! Mulher – em Anita esta palavra soa quase como um título. Patriota – ninguém o foi mais que ela. Garibaldi lhe foi causa e bandeira.
Em homenagem ao 8 de março, dia da Mulher, outras “Anitas” estão a cavalo para proclamar ao Rio Grande o seu amor por esta terra, por esta gente, às suas tradições imperecíveis e para se reafirmarem orgulhosamente mulheres gaúchas, perseguindo o sonho imortal de Anita Garibaldi
O nome verdadeiro dela é Ana Maria de Jesus Ribeiro. Nasceu a 30 de agosto de 1821, na aldeia de Morrinhos, subúrbio da cidade catarinense de Laguna (RS), Brasil, e faleceu de febre tifoide, a 4 de agosto de 1849 na cidade de Rávena, Itália, onde foi sepultada. 
Seus pais eram descendentes de imigrantes das Açores, Maria Antônia de Jesus e Bento Ribeiro da Silva, comerciante e criador de gado. Eles tiveram mais quatro filhos. Mas, a Ana, desde criança, se fez notar por a sua inteligência e seu caráter livre e independente.
Quando era muito jovem, perdeu ao seu pai e dois dos seus três irmãos, quase ao mesmo tempo. 
Ela foi mais conhecida como Anita Garibaldi, a célebre e combativa esposa de Giuseppe Garibaldi, logo apelidada como a “Heroína dos dois mundos”.
Em 1835, quando ela fazia os seus quatorze anos, e por insistência da sua mãe, se casou com um sapateiro que tinha ficado rico com o negócio do gado, chamado Manuel Duarte Aguiar. Mas, esse casamento, que não teve filhos, durou apenas 3 anos e acabou sendo um fracasso e concluiu numa separação. Além de que ele já era, de por si, muito mulherengo e maltratava a sua esposa. Aliás, o esposo se alistava com as tropas imperiais, ao contrário da sua família que apoiava aos Farrapos, que queriam se separar do império do Brasil.
Em 1837, durante a chamada Guerra dos Farrapos que acontecia no Brasil, conhece ao Giuseppe Garibaldi. Ela estava com 18 anos, e aí decidiu abandonar definitivamente ao seu anterior esposo. Ela não aceitava ser submetida às normas impostas pela sociedade. 
Garibaldi tinha vindo aos Estados Unidos devido a sua participação nas lutas pela unificação da Itália e foi condenado à morte por conspiração, pelo reino da Sardenha (atual Itália). Aí fugiu para o Brasil. Logo duma temporada no Rio de Janeiro, se uniu às tropas de David Canabarro e conquistou Laguna o 20 de julho de 1839. O seu barco fundeou e passou seus dias a bordo observando a cidade desde a sua luneta. De repente, percebeu uma jovem que chamou muito a sua atenção pela beleza.
Anos mais tarde, ele lembraria em detalhe a primeira reunião entre os dois: “Um homem que conheci, me convidou a tomar um cafezinho na sua casa. Quando a gente entrou, a primeira pessoa que eu vi foi a Anita, que resultou ser a jovem que ele tinha visto desde o barco. “Ela é a mãe de meus filhos”, pensou. A sua vez, ela pensava: “ele é o parceiro da minha vida, nos bons e maus momentos”. Logo também ele confessaria: “É a mulher cuja coragem anelo tantas vezes!”
Estávamos, a sua vez, estáticos e em silêncio, olhando-nos, como duas pessoas que não se viam pela primeira vez e que procuravam alguma coisa que lembrara de onde se tinham visto. Finalmente, dei os meus cumprimentos e confessei pra ela: “Deves ser minha!”
Junto ao Garibaldi, Anita lutaria contra as tropas imperiais. Ela recebeu seu batismo de fogo quando o barco foi atacado pela Armada Imperial em 1839, onde utilizou a carabina para se defender.
Anita Garibaldi logo participaria na luta liderando as colunas da marcha, organizando um hospital para atender os feridos e também intervindo nas batalhas, empunhando as armas.
Quando os Farrapos foram derrotados em Santa Catarina, a parelha decidiu ir para o Uruguai, o único país dessa época que aceitava o divórcio e também o único que reconheceu a República do Rio Grande do Sul.
À frente duma tropa de 900 famílias, o casal se estabeleceu em Montevidéu, onde se casaram em 1842 e tiveram mais três filhos. Ficariam morando na capital uruguaia desde 1841 até 1848. Garibaldi foi nomeado comandante da Armada em Uruguai e encabeçaria a Legião italiana composta por compatriotas exilados. A marca desta tropa era o uso das camisas vermelhas e, por tanto, assim se lhes reconhecia.
Giuseppe Garibaldi nunca tinha esquecido a sua terra natal, nem as lutas que tiveram lugar ali. Por tanto, manda a sua esposa e os seus três filhos a Niza, na França, para se preparar para a sua chegada. É escolhido deputado em Roma em 1849 e novamente participou na luta pela unificação da península italiana.
Porém, Anita não aceitou ficar em casa e foi logo a se encontrar com o seu marido para lutar com ele contra os austríacos e os franceses. Em 1849, as tropas de Garibaldi são derrotadas pelos franceses em Roma e Giuseppe e Anita retiram-se. Anita nega-se a lhe deixar e vai com ele apesar de que ela já estava doente. A república foi derrotada e Garibaldi teve que fugir, procurando refúgio em São Marino. Durante a retirada a Anita ficou doente e morreu de febre tifoide, perto de Rávena, a 4 de agosto de 1849. Garibaldi esteve exilado até 1854, quando estalou a segunda guerra da independência.
Anita Garibaldi morreu aos 28 anos grávida do seu quinto filho. Foi enterrada sete vezes, quatro por razões políticas. No entanto, Garibaldi seria vitorioso nas guerras da Unificação de Itália e considerado um dos fundadores. 
Anita e Giuseppe Garibaldi tiveram quatro filhos e só três alcançaram a idade adulta. Ela esteve presente no coração de Garibaldi durante a sua vida toda, pese a que voltou a se casar mais duas vezes. Mas, ela sempre foi o amor da sua vida, levando-a no seu coração e na sua alma, até a morte.
A sua sepultura está junto à do Giuseppe Garibaldi na colina romana do Janículo onde os dois têm duas grandes estátuas equestres. A avenida costaneira de Nervi, contígua a Génova, leva o seu nome.Além disso, duas prefeituras do estado de Santa Catarina no Brasil a homenageiam: Anita Garibaldi e Anitápolis.
Curiosidades
A casa onde morou Anita Garibaldi em Laguna, hoje é museu, inaugurado em 1978 e conta a história da ilustre residente
O município de Anita Garibaldi, elevado à cidade em 1961, leva o nome de Anita, desde 1842, quando antes era só um lugar de descanso para as tropas. 
Anita Garibaldi foi o tema da escola de samba Viradouro em 1999, contando a história: "Anita Garibaldi – A heroína dos sete feitiços".
Sua vida foi levada à tela dos cinemas, em vários filmes italianos e no brasileiro “Anita e Garibaldi”, de Alberto Rondalli, em 2013.
Pela sua importância na história brasileira, Anita Garibaldi nomeia avenidas, ruas e escolas em todo o Brasil. Em 2012, inaugurou-se o Ponte Anita Garibaldi, sobre a Lagoa Imaruí, que conecta a cidade de Laguna com o continente.


Annabela Garcia
Uruguaia, escritora, poetisa e apaixonada pela língua portuguesa.


 


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