O filme da minha vida...

Outra vez o outono. Os dias são mais curtos, está frio e chove muito. Já não posso passear durante horas (e não quero). Até apanho o autocarro para a universidade e de volta para a casa preciso dum chá quente. Desejo deitar-me um dia e acordar na primavera, quando as árvores estejam em flor. Queria ser um urso, mas ainda tenho coisas por fazer e não posso cair nos braços do Morfeu, assim afundo-me em “meio-sono”. Vejo filmes. Foi complicado pensar num filme importante para mim. Na infância tinha muitos modelos para seguir, mas com o tempo esqueci-me deles e criei uma personalidade própria e original, não duma princesa Disney. Finalmente, decidi-me pelo último filme que vi no cinema: “Skyfall”. 
 Um dia um amigo meu telefonou-me e perguntou se tinha alguma coisa para fazer nessa noite. Costumo dizer que não tenho nada importante porque, muitas vezes, assim consigo uma cerveja ou comida grátis. Desta vez foi ainda melhor porque recebi um bilhete de cinema. Naquele momento não percebia que a minha decisão iniciaria uma espiral de desgraças e mexericos. Gostei muito do James Bond, mas a amante do protagonista não era boa atriz. Não comi pipocas, não falei pelo telemóvel, também não fui à casa de banho. Portei-me bem. Mas depois do filme vi que tinha cinco chamadas perdidas. O meu namorado estava zangado comigo e senti a obrigação de falar com ele. Normalmente não minto e naquele momento também não queria mentir. Contei-lhe que estive no cinema com um amigo. Desligou a chamada. Desde então a minha vida mudou muito. Parece um filme. O meu namorado tinha espiões que supostamente me viam com o mesmo amigo pela rua, juntos, de mão dada. A cada dia, hora, minuto, segundo, os mexericos eram mais interessantes. Uma paixão descontrolada, fugas secretas para a casa dele, uma relação misteriosa. Não! Uma seita satânica e comércio de órgãos. Depois duma semana dentro dum filme de suspense, começou a parte dramática. Eu estava irritada. Queria falar com ele, mas não era possível. Tinha monólogos com um boneco calado, deprimido, estranho. Só esperava que explodisse duma vez. E explodiu. Gritou-me no meio da rua e deixou-me sozinha.
 Agora sou solteira e nunca imaginei que um filme pudesse alterar tanto a minha vida. Mas, ainda assim, gosto do James Bond. É o meu herói tanto no grande ecrã como na vida real.

Natalia Sławińska

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