Vamos às compras!?

Quando ouço a palavra «as compras» eu vejo em frente dos meus olhos montes de pessoas quem vão ao supermercado ou à mercearia diariamente para comprar as coisas necessárias para existir. Mas o termo «fazer compras» é mais complicado, porque para cada ser isto pode significar uma atividade diferente. Para começar, para as pessoas muito ocupadas fazer compras significa ir a uma loja e colocar no seu carrinho os produtos mais necessários para viver. Estas pessoas estão muito impacientes esperando na fila, porque não compreendem como podem perder tanto tempo numa loja, especialmente o tempo que é precioso. O segundo tipo dos compradores são os idosos que gostam de fazer compras porque é um pretexto para sair de casa e encontrarem-se uns com os outros. Dividem-se entre: a) os idosos mexeriqueiros, b) os idosos da época comunista e c)os idosos pobres. Os primeiros adoram ficar no centro da loja e comentar o que se passa ao redor. Não lhes importa que bloqueiam a passagem. Para além disso observam sempre o que tens no teu carrinho e fazem comentários. Os segundos (trata-se especialmente das mulheres), na língua coloquial são chamadas «bolseiras». Elas acham que todo o mundo vai comprar repentinamente todos os produtos que desejam (isto é um vestígio do comunismo). Por isso correm com o carrinho usando os seus cotovelos para dar golpes aos outros clientes e para conquistar o produto único que é o pão quente. O terceiro grupo é formado pelos pensionistas pobres que entram numa loja só para comprar pão, leite e batatas. Os estudantes polacos também formam o grupo específico. Entram na loja e compram sempre as mesmas coisas: pão, chocolate, cerveja e pepinos fermentados. Não precisam de outros produtos: isto é suficiente. Existe também um grupo que se chama os dependentes. Eles são os mais perigosos. Eles adoram fazer compras e podem passar muitas horas no centro comercial. Compram tudo: roupa, cosméticos, eletrodomésticos, etc. O ato da compra é o mais importante, é essencial. Especialmente durante os saldos. Neste período é recomendável evitar as lojas, porque se pode sofrer. Quando vi o filme Os Delírios de Consumo de Becky Bloom (Confessions of a Shopaholic) com Isla Fisher e Hugh Dancy eu não podia acreditar que as mulheres podem bater-se por causa duma peça de roupa. Mas uma vez durante a época dos saldos eu vi que duas mulheres lutavam por um blusão e que o rasgaram. Não posso compreender isto. Onde está a boa-educação destas mulheres? E as suas cabeças? Estou certa que não nesta loja. No filme podemos ver que a Rebecca (a protagonista) tem muita roupa e muitas dívidas. E não são só as situações imaginadas, na realidade passa o mesmo. Por outro lado, temos também diferentes tipos das lojas. No centro comercial temos tudo perto. Podemos ir ao cinema, ao cabeleireiro, comprar roupa, calçado, medicamentos e comida no mesmo lugar e dia. Isto é incrível quanto tempo as pessoas passam nos centros comerciais. Alem disso, quando entramos no hipermercado podemos sentir-nos inquietos pelo sentido de espaço. Entramos ali e esquecemos-nos do que tínhamos que comprar. E depois saímos com muitas coisas dispensáveis e com a carteira vazia. Mas não é o único lugar onde podemos perder dinheiro ou a nossa carteira. Na feira também podemos comprar comida e roupa. A comida é mais fresca do que a do supermercado mas temos de ter cuidado com os carteiristas que estão à espera das vítimas. Às vezes porém as pessoas preferem o preço baixo à qualidade e por isso vão simplesmente ao supermercado. Finalmente, acho que o dinheiro e as compras governam o mundo. Não é possível escapar-se das compras e lojas. Mesmo que façamos as compras na internet, compramos algo. É óbvio que deveríamos pensar muito bem antes de comprar uma coisa mas as compras formam uma parte inseparável da nossa vida. 
Anna Krupa

  Sistema digestivo do consumo
Estou num cruzamento de ruas. Atrás há uma rua. Em frente há uma rua. À esquerda há uma rua. À direita há uma rua. Há tantas ruas que não sei qual é que hei de escolher. Na mão tenho um saco de pano velho. O saco está vazio. O estômago também. Só a cabeça é que não para de encher com pensamentos indigeríveis e pesados. Qual e a rua que hei de escolher? Esta em frente leva a um supermercado. Um néon deslumbrante convida à caverna da abundância. Umas estreitas passagens entre as estantes entupidas de plástico que prometem o sabor maravilhoso por um preço tão baixo como nunca antes. Nesta caverna não há espaço para as pessoas. Devem escolher sem perda de tempo (a digestão deve ser eficiente, o tempo é dinheiro). A caverna não é para a gente, é a gente que é para a caverna. As mulheres lançam um olhar para um cantinho com os cosméticos e escolhem, pois é ouro para os pobres. As etiquetas prometem maravilhas. Os homens não param, não há nem etiquetas para eles, ou se há, são tão pequenas e escuras como se dissessem que os homens devem perdoar por não se deixarem de enganar. Esta rua à esquerda leva a um hipermercado. É um micro-mundo, um mundo paralelo: atrás da porta as leis do mundo exterior deixam de funcionar. As avenidas são largas e compridas. As prateleiras cheias de quase tudo estendem-se até ao infinito. Cinquenta tipos de manteiga gritam que as leve comigo. Quero uma manteiga boa, não no meio da selva de cinquenta tipos de manteigas idênticas que sabem da mesma maneira, mas com certeza não a manteiga. Para atravessar de um ponto a outro precisa-se de ter horas inteiras. Para escolher, horas. Para pagar, horas, e nós como uns lunáticos, loucos andamos entre prateleiras sem saber o que escolher. O hipermercado não foi criado para que os clientes pensassem, foi criado para o consumo. As mercadorias são más, caras ou sem informações sobre o seu conteúdo, pois as etiquetas que estão na embalagem são escritas num idioma com o qual não estamos familiarizados. Não estamos lá para falar e sim para comprar (a digestão deve ser eficiente, o tempo é dinheiro). Só os olhos do caixa, cada vez mais, silenciosamente imploram que o deixem fugir dessa máquina para ruminar a consciência. À direita há uma feira. Entre as mesas para os jovens, passa gente que geralmente não é mais nova que essas mesas. Os seus olhos ainda não estão tão abatidos nem cansados mas têm que se defender sem parar. A necessidade de digerir é mais forte do que a consciência. Já não compramos para viver, já vivemos para comprar. Estou no cruzamento. Quatro pontos cardeais, quatro ruas, quatro mundos e um estômago vazio ainda está vazio, mas não quero ser engolida.
Anna Kułak

Comentários

  1. Felicita a imaginação e habilidades de transferi-las para o papel. Um assunto interessante, dada em sua forma original. Bem feito, ansiosos para mais :)

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  2. Interessantes textos, lançam um olhar crítico sobre o consumismo frenético das pessoas.
    O tema, com certeza, é motivo para debates em sala de aula ou, até mesmo, em rodas de amigos.

    Percebi muito termos e, principalmente, palavras que são usadas em outros países de língua portuguesa diferente da do Brasil mas isso não atrapalha a compreensão do texto, não para mim.

    O Importante é a passagem da mensagem, o que se quer transmitir, isso é a principal razão da existência da linguagem.

    Meus parabéns e continuem a escrever +^..^+

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  3. Muito bom!
    Curioso perceber que no mundo globalizado, em todo canto repetem-se nao só os sistemas, as variedades de manteiga, a cesta basica dos jovens, mas tambem os sentimentos de alguns clientes.
    Bom saber que outras pessoas também preferem ter o estomago vazio à serem engolidos...

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