O orgulho polaco
Quando
procuro no Google polaco a expressão ”o orgulho polaco” quase todos os
resultados da pesquisa são relacionados com os hussardos polacos. Além disso
vejo também outros símbolos da guerra, a ”âncora” – um símbolo da Polónia em
luta, o nosso brasão de armas – águia branca. Às vezes aparece alguma foto dum
desportista (Stoch, Kowalczyk, Lewandowski), ou de um dos nossos seis
vencedores do Prémio Nobel. Quando pergunto aos meus compatriotas de que se
sentem mais orgulhosos como polacos, normalmente a primeira resposta é: João Paulo II. Apesar de tudo isso (e
muito mais) nós, os polacos, somos um povo de muitos complexos. Acho que a
razão disso é tantos anos de comunismo que sofremos. Quando depois da Segunda
Guerra Mundial a maioria dos países da Europa ocidental se desenvolvia, Polónia ainda teve de lutar pela liberdade.
Uma das consequências disso é o nosso ”atraso” (sobretudo económico). E assim
frequentemente sentimo-nos piores do que os ”de Ocidente”, porque ganhamos
menos, não temos tantas auto-estradas, o nosso serviço de saúde não funciona
bem, somos mais pobres etc. Para além disso, um dos estereótipos sobre os
polacos é que bebemos demasiada vodca e que entre nós há muitos ladrões. Alguns
de nós foram ofendidos quando no estrangeiro disseram que eram da Polónia. E
infelizmente não se defenderam. Por outro lado em algumas questões somos
demasiado presumidos. Não é possível ofender mais um polaco do que dizer que é
russo, ou que a Polónia faz parte da Rússia. (Mas acho que os portugueses podem
sentir o mesmo quando alguém trata Portugal como “algo” perto da Espanha). Apesar
de sermos presumidos, a nossa caraterística nacional é o pessimismo e a queixa.
Muitos polacos nas conversas dão a impressão de saber tudo, mas além de falar,
não fazem nada. Temos até um provérbio “O polaco é sábio depois do prejuízo”. Tudo
isso é muito visível tanto nas situações diárias, como nos momentos significativos.
Somos capazes de suportar muitíssimo e não reagir (ou ainda discutimos uns com
outros), até quando a situação seja terrível, mas quando chega a crise extrema,
sabemos cooperar e demonstrar o heroísmo como nenhum outro. A nossa qualidade
nacional é certamente também a capacidade de atingir os nossos propósitos,
fazer as coisas mesmo sem ter os recursos. Quando um polaco tem algum problema,
vai inventar ou criar algo que o resolva. Depois de tantos anos de carências,
aprendemos a ser auto-suficientes, a saber
construir algo de nada, fazer o impossível (especialmente as gerações mais
velhas do que a minha). Isto faz-me sentir muito orgulhosa. E quando eu durante
a minha vida me senti especialmente orgulhosa de ser polaca? Além das coisas
evidentes (os sucessos desportivos dos meus compatriotas e tudo relacionado com
o nosso Papa), posso destacar duas situações mais significativas. A primeira
foi a catástrofe do avião presidencial em Smolensk. Depois do acidente, todos
os polacos se uniram. Nesta fraternidade e compaixão todos nós sentimos algo
especial, algo indescritível. E muito polaco. E a segunda... no Brasil. Estive lá
com os meus amigos para a Jornada Mundial da Juventude e passámos algum tempo
na região de Curitiba. Ficámos totalmente surpreendidos ao ver as reações das
pessoas ao saberem que éramos da
Polónia. Todos queriam tirar uma foto connosco. Um homem falou comigo em polaco
depois de 40 anos sem usar essa língua. Numa casa de repouso recebemos uma
revista muito antiga (encontrámos nela as informações sobre uma invenção nova,
que parece ser perigosa e está nomeada laser), que uma polaca guardou até à sua
morte. Até os guardas nos arranjaram uma excursão numa reserva, onde normalmente
não se pode entrar. E depois em Copacabana quando o Papa anunciou que as
Jornadas de 2016 serão em Cracóvia, todos os símbolos da Polónia se tornaram
inestimáveis. E nós, os polacos, também. Em tais momentos não há nada melhor que ser polaca.
Debora Mirosław
3º ano de Filologia Ibérica
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