O cristianismo e o outro paganismo ou seja “A adivinha diz sempre a verdade”
Estima-se que mais de oitenta por cento dos polacos
professa o cristianismo. Ao mesmo tempo
quase sessenta por cento das pessoas, inquiridas através de várias
instituições, declara que acredita nas adivinhas e nos horóscopos. Foi
calculado que essas mesmas pessoas juntas gastam anualmente cerca de 2 bilhões
de zlótis em serviços esotéricos.
Deixemos os números e as estatísticas
aos entrevistadores. Suponhamos que eles sabem mais disso. O que nos realmente deve
interessar é a relação entre a religiosidade dos polacos e a confiança que
têm nas coisas de raízes pagãs. Ou
melhor, se existe alguma dependência entre estas duas coisas.
De acordo com “O dicionário de mitos a tradições culturais”
a adivinhação, a cartomancia, a taromancia e outras são práticas que envolvem a
previsão do futuro ou coisas desconhecidas, baseadas na fé na existência do
mundo sobrenatural e a possibilidade de contato com ele para ter as informações
em forma de signos ou sinais de
diferentes tipos. Simplificando, se
queres conhecer o futuro tens de visitar um vidente.
Na Antiguidade alguns fenómenos eram
considerados proféticos, especialmente estes vistos no céu (os eclipses, os
cometas, as tempestades e as tormentas de força excecional, os trovões) vistos
como os sinais de deuses. Os sonhos, o relincho do cavalo, o sussurro das
folhas, o voo das aves, as entranhas do sacrifício- nestas coisas buscavam-se
as respostas às perguntas que ainda hoje atormentam os seres humanos.
Tudo isto é agora substituído pelas
bolas de cristal, o tarot e a teimancia (é uma técnica de leitura pelas folhas
de chá). Para realçar- não todas as culturas acolhem este novo modelo de
adivinhação. É uma maravilha. Tanto progresso em tão pouco tempo. Afinal o que
significam 2000 anos para o homem?
Para os polacos é apenas o tempo
suficiente para criar um país, sobreviver à cristianização, a duas dinastias,
eleição livre, partições, a duas guerras mundiais, ao comunismo e várias repúblicas. Nem mais, nem menos.
Quando olho para tudo isto com os olhos
que conhecem o presente e o passado, começo a pensar que o Darwin tinha
razão- só os indivíduos mais fortes
sobrevivem. Que pena, senhor Darwin, que não os mais sapientes.
Por que as pessoas acreditam em magia e
profecia? Os psicólogos modernos aliás
pesquisadores do pelo no ovo, dizem que isto não tem nada a ver com a razão.
Mas o que eu percebo da expressão “nada a ver” é bastante diferente do seu
ponto de vista.
A seu ver parece que hoje as pessoas
acreditam e não acreditam ao mesmo tempo. De onde conhecemos isso? A ciência e
a tecnologia estão no nível muito alto. Uma grande parte dos fenómenos do mundo
tem uma explicação. Parece que já não há muito
ainda a descobrir. O homem tem um grande conhecimento mas carece de
mistério. Estes eu chamaria “os chateados”. A adivinhação dá-lhe uma aparência,
torna a vida mais excitante- isto seria um dos motivos da crença em presságios.
Existe também o grupo das pessoas que acreditam nisto, dedicam as suas vidas à
constante pesquisa do extraordinário- estes chamam-se a si próprios “os
iniciados”. Outros não acreditam, não praticam e não perdem o tempo- esses eu
chamo “os razoáveis”. Uma explicação
mais pode ser que o homem, educado, inteligente e moderno às vezes sente-se
perdido no mundo técnico. E se não acredita profundamente em Deus, tenta
acreditar na magia e desta forma explicar os seus problemas. Ainda temos o meu
grupo preferido. O conjunto das pessoas, que dizem que são católicos mas também
acreditam na magia- estes tem só um nome. São os polacos. Somos mestres.
O que é que tem a ver o catolicismo com
a adivinhação?
Muito e muito pouco ao mesmo tempo.
A religião cristã rejeita todas as
formas de adivinhação. O Catecismo da Igreja Católica diz que “Todas as formas de adivinhação hão de ser rejeitadas: recurso a Satanás
ou aos demónios, evocação dos mortos ou outras práticas que erroneamente se
supõe "descobrir" o futuro. A consulta aos horóscopos, a astrologia,
a quiromancia, a interpretação de presságios e da sorte, os fenómenos de visão,
o recurso a médiuns escondem uma vontade de poder sobre o tempo, sobre a
história e, finalmente, sobre os homens, ao mesmo tempo que um desejo de ganhar
para si os poderes ocultos. Essas práticas contradizem a honra e o respeito
que, unidos ao amoroso temor, devemos exclusivamente a Deus.”
A mensagem é simples: se alguma vez
visitaste uma adivinha, leste um horóscopo, ou fugiste ao ver um gato preto
sentado na escada no meio da rua...
pecaste. Mais ou menos isso foi o que uma vez ouvi de um padre da minha
paróquia. Para uma criança de 6 anos foi um choque mas como não podia ler e
escrever, não sabia de existência de adivinhas e superstições, senti que a
minha alma ainda se pode salvar.
Mas cada moeda tem dois lados. Não se
pode pôr todos no mesmo saco. Quando procurava inspiração para escrever
encontrei-me com um homem que me inspirou para abordar este tema, um homem
dedicado a Deus, um padre que, na minha opinião, é uma das pessoas mais
sensatas que eu conheci na vida. Quando
falamos dos polacos, católicos que muitas vezes preferem buscar respostas na
boca de uma advinha, ele disse: “a fé
que um homem tem nos horóscopos e adivinhas mostra mais a insensatez que a maldade deste homem”. Com isto não penso discutir. Outra pessoa muito iluminada que se
chamava Confúcio disse “Se queres prever o futuro, estuda o passado”.
E para estes que como eu não gostam de
adivinhar, eu digo: Se queres conhecer o futuro, espera.
Beata Zuzel
2º ano de Estudos Portugueses
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