A Encruzilhada
Cá estou, de cócoras sobre uma galinha meio-morta e dessangrada. Observo com atenção os desenhos que fiz no chão de terra, dois pequenos desenhos que tão aplicadamente criei com pólvora e farinha. O primeiro tem a forma de uma grande cruz num pedestal, com um pequeno caixão dos dois lados. O segundo é um coração salpicado de estrelas e riscas de farinha a serpentear em volta dele. Uma coluna de madeira liga o chão ao tecto. De olhos fechados, tomo fôlego e o ar denso enche-me com o cheiro do espaço que me rodeia. A doçura untuosa da palha que recheia os muros de adobe, gastos e amarelados; a irritação invisível do pó preto e branco, espalhado pela terra; o odor doce e fluido da cera de cem velas a derreter-se; o resquício metálico do sangue do animal que reflecte o preto do tecto, já coberto de fuligem. Cheira a carvão queimado e a suor e a couro. Uma faixa castanha é tudo o que ainda cobre a minha pele, agora e sempre. Ajoelho-me diante de um altar coberto de vapor. Levanto os ol...