O que me irrita II


Como toda a gente, tenho a minha própria ideologia. Creio que uma certa ordem no mundo é crucial e sigo as regras desta ordem. Não gosto quando alguém destrói a minha visão do mundo perfeito.
Não me irritam pessoas ou coisas em particular, mas certos grupos e os seus esquemas de comportamento. Nada me dá pior dor de cabeça do que os conservadores. São as pessoas que cultivam as tradições mais antigas da cultura polaca. Entre outros, escrevem como os seus antepassados da Idade Média, então não usam pontos, vírgulas, maiúsculas nem outros elementos indispensáveis para compreender o texto. Eu não vou adivinhar o que o emissor queria dizer e peço-lhe que repita (irrito-o muito) até que escreva de forma compreensível.
Faço o mesmo com os adeptos do futurismo. É um movimento artístico e literário da primeira metade do século XX, que aprecia o valor da originalidade e a criatividade. Não conheço pintores ou arquitetos que representam este estilo, mas há muitos escritores. Eles sabem as regras da ortografia polaca, mas, para serem excêntricos, não as seguem. De quando em quando esquecem-se disto e escrevem na mesma frase uma palavra duas vezes: uma corretamente e a outra futuristicamente. Irrita-me esta falta de coerência.
Eu sei que é muito importante conhecer outras culturas e outras línguas. Viajar pelo mundo faz-nos mais sábios e tolerantes. Se calhar devo viajar mais, porque não tolero os poliglotas. Quando conhecem uma palavra nova, geralmente inglesa, esquecem-se imediatamente da palavra polaca. Depois escrevem frases em duas línguas ainda que não haja nenhuma razão para fazer isso. Nas aulas na escola primária ensinavam-me que metade de um burro e metade de um sapo não é igual a um animal.
Respeito todas as pessoas que se interessam por alguma coisa e não me importa se jogam xadrez, se ouvem Justin Bieber. Também respeito os cinéfilos, mas isto não significa que eles não me irritam. Eles conhecem todos os filmes novos, conhecem os atores, sabem quem é mau, que é um bom ator, predizem que filme vai ganhar o Oscar. Isto é incrível. Para mim um filme é só um filme. O que é mais incrível é que os cinéfilos não sabem a diferença entre Star Trek e Star Wars. Chewbacca não era um amigo de Spock e Picard não lutava com um sabre de luz. É óbvio!
Irritam-me muito as minhas fraquezas, sobretudo a indolência. Tenho sempre o plano de fazer todo o trabalho de casa durante o fim de semana, mas ver pela quinta vez Prison Break é mais importante do que escrever uma composição.
Detesto a situação quando não tenho ideia do que escrever. Os meus amigos tentam ajudar-me, mas geralmente as suas sugestões são piores do que a minha falta de ideias. Por exemplo, eu pergunto: "O que te irrita?" "Tudo." "Nada." "Os patos que atravessam a rua." Não vou escrever isto, eu gosto de patos.
Há também um grupo de pessoas piores de tudo. Eles enervam-me imenso: despertam o Mr. Hyde, provocam a Terceira Guerra Mundial, acendem o rastilho das toneladas de explosivos, arriscam as suas vidas. São as pessoas que não compartilham chocolate comigo.

Małgorzata Stankiewicz

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