O que me irrita

Está frio. Chove e há muito vento. Infelizmente não tenho nenhum guarda-chuva, então, a cada segundo, pareço mais e mais um rato afogado. Sem dúvida, não estou feliz. Não posso fingir que tudo está bem. Estou furiosa. Sim, furiosa, zangada, irritada...e ela já está atrasada meia hora. Outra vez é impontual. Não quero ouvir outra vez as suas desculpas estúpidas. Finalmente chega. Respiro fundo, sorrio e sem palavras vou levá-la para um café. 
  O meu pequeno café preferido está fechado. Temos de mudar de lugar. Agora estamos numa pastelaria onde só se podem ver casais apaixonadas que não param de se beijar e abraçar. Isso dá-me vontade de vomitar, mas a chuva não nos permite deixar este “jardim do amor”. Estamos ansiosas por um café que já está a fazer há 15 minutos. Tento concentrar-me na música do rádio, mas... isso não é uma boa ideia. Só modernas batidas tecno que não têm nada para oferecer. Estou irritada, sem palavras, e sem café, saímos deste lugar. 
  Ainda está a chover, portanto vamos para a paragem apanhar um autocarro. Muita gente espera impacientemente para voltar para casa. Infelizmente a chuva é forte e o engarrafamento em hora de ponta atrasa tudo. Estamos um pouco chateadas e irritadas. Além disso, um homem alto com uma barba ruiva está a fumar bastante perto de mim. Não me vê porque está ao telefone. Portanto, não percebe que todo o fumo que lança da boca está a voar diretamente para mim. Quero dizer-lhe algo desagradável mas alegremente chega o nosso autocarro. Subimos. 
  A minha primeira impressão é que não estamos no autocarro número cinco, mas no meio do deserto cheio de pessoas suadas. Sem ar, sem água, sem espaço. Já é segunda vez que quero vomitar mas... não tenho nenhum lugar para fazer isso. Estou irritada, muito irritada. Acho que neste momento sou a pessoa mais irritada do mundo. A paragem de autocarro número um, a paragem número dois, a paragem número três, quatro, cinco, seis... ufff. Por fim, deixamos o deserto de suor e fedor. Continua a chover por isso os meus sapatos de camurça estão completamente molhados. Sem dúvida vou ficar doente. Maravilhoso! A minha amiga sem nome, mas com galochas, pode cantar e saltar sobre poças, o que me irrita ainda mais. Já não quero vomitar, eu quero matá-la, mas finalmente e alegremente, chegamos à minha casa. 
  Esperava descansar um pouco mas depois de três minutos vejo perfeitamente que hoje isso não é possível... O meu querido irmão, grande músico, está a tocar saxofone. Não sei se há no mundo um instrumento cujo som me irrite mais. Educadamente digo "adeus" à minha amiga, corro para o meu quarto, fecho a porta, fecho os olhos, trato de tapar as orelhas também e cheia da irritação, vou dormir com a cabeça debaixo do travesseiro. Estou a dormir! Estou a dormir e a sonhar com o dia mais irritante da minha vida.

Joanna Dudek

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