ENTREVISTA COM WERONIKA SIEWIERSKA
Weronika Siewierska nasceu em 1988, em Brasília. Começou a
sua aprendizagem de piano com a mãe. Estudou também com os professores Luiz
Medalha, Alda de Mattos, Jerzy Łukowicz e Andrzej Pikul. Em 2007 iniciou os seus
estudos no Departamento de Música da Universidade de Brasília, com as
professoras Maria de los Angeles e Beatriz de Freitas Salles. Em 2008 foi aceite
na Academia de Música de Cracóvia, na Polónia, na classe de piano do prof.
Andrzej Pikul. Em 2013 concluiu o mestrado na classe de piano da profa. Milena
Kędra na mesma Academia, onde atualmente é doutoranda. No ano 2010, na Polónia,
participou no programa 200 concertos no 200º aniversário de Frederico Chopin.
Participou em aulas com os professores Andrzej Jasiński, Lee Kum-Sing, Sergei
Dukachev, Pascal Devoyon, Edith Murano, Roberto Russo, Jerzy Sterczyński, no
Brasil, na Holanda, na Polónia e na Itália. Obteve o 3º lugar no Concurso
Internacional de Piano Chopin Roma 2011, em Roma. Nos seus recitais em Varsóvia,
Cracóvia, Roma, Apeldoorn, Loro Ciufenna e Brasília interpretou peças de M.
Ravel, A. Scriabin, F. Chopin, K. Szymanowski e H. Villa-Lobos, entre outros.
No início gostaria de a felicitar pelo espetáculo
maravilhoso (1). Depois de terminar o concerto todos os espectadores saiam da
sala muito impressionados. Então mais uma vez muito obrigada pela noite cheia
de boas sensações. Agora queria acercar aos nossos leitores o seu perfil
fazendo algumas perguntas.
Quando descobriu o seu amor pela música?
Acho que a
descoberta do amor pela música chega com o tempo. Penso que esta fase sucedeu
durante a etapa inicial do meu encontro com a música de piano. A minha mãe foi
uma pianista ativa e com muita frequência tocava em casa então para mim este
contato com a música teve lugar quando era criança. Sim seguramente apaixonei-me
quando era pequena. Também na minha vida tive alguns momentos importantes como
por exemplo: a participação em concursos quando tinha 11 anos. Uma vez ouvi um
rapaz que tocava a Balada g-minor do Chopin e este acontecimento
impressionou-me muito.
Lembra-se quantos anos tinha quando se sentou em frente
do piano pela primeira vez e qual foi a primeira composição que tocou?
A minha aventura com
o piano começou quando era pequena . Lembro-me que durante a minha primeira
apresentação numa escola toquei um minueto
mas não me lembro de que compositor. Lembro-me que estava muito
emocionada e que a reação da audiência surpreendeu-me muito. Todos eram muito
simpáticos e amistosos. Naquele momento não estava ainda consciente do que
realmente significa tocar mas tudo isto foi para mim uma experiência muito
agradável.
Primeiro como aluna, depois como estudante e agora como doutoranda
quantas horas por dia dedica a tocar o piano, para aperfeiçoar o seu talento?
Tenho uma regra, quando tenho por exemplo
cinco horas para praticar faço pausas. Isto não são cinco horas a tocar
constantemente. Este procedimento é necessário para melhorar a concentração,
não se pode esforçar demasiado. Para o músico é muito importante cuidar da sua
ferramenta de trabalho- cuidar das suas mãos. Muitas vezes nos esquecemos que
temos limites. Estas cinco horas são para mim o mínimo para que possa terminar
o dia com a consciência que fiz o meu trabalho. Acho que isto também é uma
questão de concentração porque há pessoas que são capazes de passar estas cinco
horas em frente do piano sem nenhuma pausa e depois ter livre o resto do dia.
Eu prefiro dividir o trabalho para todo o dia e dedicar-me só a tocar, pensar
em isto, viver a experiência. Quando me preparo para um concerto, a melhor
situação para mim é quando uns dias antes não tenho nada mais para fazer e
posso passar apenas o dia inteiro a praticar.
A Weronika nasceu e cresceu no Brasil. Quando e onde
surgiu a ideia de continuar os estudos na Polónia?
Na verdade esta
ideia apareceu na minha cabeça inesperadamente. Cheguei a Varsóvia para um
recital no final do ano. Toquei no Museu da Literatura e naquele tempo já
estudava no Brasil, e não pensava absolutamente nessa questão. Decidi
encontrar-me com o professor Pikul porque o conheci quando era pequena. É
verdade que não tive contato com ele durante dez anos mas lembro-me que queria
muito tocar para ele o programa que tinha de executar durante o concerto. Quando
toquei tudo, de repente, ele perguntou-me que planos tinha para o futuro, se
tinha pensado em continuar os estudos na Polónia? Eu pensei…porque não? Claro
que a pergunta referia-se ao futuro distante mas eu tomei a decisão durante uns
meses. Cheguei, toquei, passei o exame e fiquei na Polónia. Tudo isto não foi
planeado, pelo menos não da minha parte. Não sei se alguém planeou isto por mim
mas seguramente eu não esperava que tudo terminasse assim, mas felizmente para
mim acabou assim. Acho que a vinda para Polónia teve muitas boas consequências
para mim porque isto abriu-me os olhos e a mente, esclareceu-me como pode ser o
mundo da música. Isto foi o início das minhas descobertas.
Prefere atuar a solo ou em dueto?
Gosto muito de atuar
a solo mas talvez porque não tenho muita experiência como instrumentista de
câmara. Uma vez tive oportunidade de tocar com um quarteto e então provavelmente
pensei pela primeira vez que tudo isto depende não da experiência mas dos
músicos com os quais se trabalha. Isto é um pouco como o diálogo. Há pessoas
com as quais o diálogo é fácil para nós, da mesma forma, há músicos com os
quais é fácil tocar. Agora tenho nos planos um dueto. Isto é algo a que
gostaria de dedicar o meu tempo porque acho que é uma coisa estupenda quando se
encontram dois pianos. Também há muitas composições interessantes para este
tipo da música.
Tem um compositor favorito cujas obras toca com vontade e
entusiasmo especial?
Sim, tenho. Desde
alguns anos estou apaixonada pela música de Ravel. Acho que Ravel será o compositor
cuja música sempre estará presente no meu repertório. Ravel foi e ainda é para
mim uma grande descoberta. Naturalmente que se pode apreciar verdadeiramente a
música de um compositor e não sentir-se bem tocando as suas obras. Respeito
Ravel e sinto-me muito bem na sua música, além disso, acho que a sua música
formou-me como músico e não faço a referência só ao facto de que a sua música
dá-me a oportunidade para expressar-me mas também me refiro à possibilidade de
aprender algo novo. Tocar as suas obras dá-me muita alegria.
Sendo uma música com grande experiência às vezes tem a
impressão de que em algumas situações a música reflete certas emoções melhor do
que as palavras, que expressa o que não se pode expressar com as palavras?
Recentemente pensei sobre isso e não sei se a música reflete melhor os sentimentos. Com certeza
isto é um modo diferente através do qual se pode expressar certos estados do
espírito. Podemos dizer que as palavras descrevem os sentimentos, emoções ou
estados de ânimo mas a música pode levar até este estado. Não sei porque é
assim mas a música é universal, sem dúvida alguns dos seus elementos são
universais mas o que é também muito importante é que há que aprender a ser
sensível para a música. Alguns elementos são tão lógicos que acaba por se
tornar uma ciência. Acho que através da música se pode expressar muito e isto
seguramente é um elogio, um suplemento à comunicação que serve à aproximação.
O que aprecia mais na Polónia e nos polacos?
Tenho de dizer que é
muito interessante ter apreciado a língua apenas depois da minha chegada. Naturalmente
conhecia o polaco antes mas não tive oportunidade de falar com os nativos. Notei
que o polaco tem um grande leque de possibilidades que anteriormente não via.
No início a minha atitude era até hostil não podia entender como é que o polaco
é tão restritivo. No princípio a minha perceção da língua polaca foi assim.
Depois aprendi que esta língua simplesmente é muito exata, é como uma paleta de
cores onde há por exemplo o vermelho de diferentes tipos: claros e escuros.
Cada tom tem outro nome. Naturalmente não sou especialista no campo da língua,
lembro-me que fiquei encantada vendo como as pessoas a utilizam. Acho que
também tive sorte e encontrei no meu caminho as pessoas que me mostraram de uma
maneira interessante como funciona esta língua. No que diz respeito aos polacos
certamente aprecio a amabilidade. Sempre encontrei as pessoas amigáveis e para
mim esta amabilidade tornou-se num quadro do típico polaco. A qualidade
característica dos polacos é que eles ouvem sempre o que outro tem para dizer,
que estão atentos às necessidades dos outros. Às vezes até estranhos foram
capazes de demostrar através dos seus atos a sua bondade e a sua vontade de
ajudar. Para mim isto foi muito agradável. Agora realmente aprecio esta
abertura, sinceridade e capacidade de ouvir o outro. Quando podem ajudar seguramente
o farão, pelo menos da minha experiência.
Quais são os seus planos para o futuro? Pensou em
participar na Competição Internacional de Piano Frédéric Chopin como
representante da Polónia?
Pensei nisso mas implica
o sacrifício muito grande em que eu não podia comprometer-me naquele momento
porque tinha outros planos. Agora não poderia participar nesta competição
porque há um limite da idade. Quanto aos planos para o futuro quero participar
em competições porque acho que descuidei um pouco esta parte da minha vida.
Quero tomar parte nestas competições não porque acho que são muito importantes
mas porque que esta participação pode dar-me muito como instrumentista. Sempre coloquei
os concursos no segundo plano para não me preocupar se sou melhor ou pior do
que os outros. Agora penso que estou numa etapa na qual gostaria de sentir que há
concorrência, gostaria de sentir e atuar nos lugares onde há este tipo da
pressão. O plano para o futuro mais próximo é com certeza terminar o meu doutorado.
Ontem, ouvindo e observando atentamente a sua
apresentação ocorreu-me a seguinte pergunta: o músico não é parecido com o ator?
Porque um bom ator é capaz de refletir as emoções não só mediante as expressões
faciais mas usando todo o corpo. O bom músico também expressa as emoções escritas
nas notas não só através dos sons extraídos do instrumento ou tocando piano ou
forte em certos momentos, mas também expressa as emoções utilizando as
expressões faciais ou a gesticulação. É assim ou isto é só a minha impressão
pessoal?
Certamente é assim e
até acho que se deveria esclarecer mais esta questão aos músicos.
Quando se observa o músico, pelo menos do meu ponto de
vista, sei que é mais fácil sentir as emoções, é mais fácil interpretar a obra
vendo as emoções descritas na cara da pessoa que atua.
Sim, isto também é
verdade que quando público vem ao concerto também quer experimentar um prazer
visual. Fazendo parte da audiência ouve-se não só a música mas também se podem
ver os gestos e a expressão do rosto do músico. Naturalmente há que aprender
controlá-lo. Existem diferentes tipos de músicos. Uns não expressem nada outros
expressem demasiado. Acho que cada músico deve aprender a não expressar
demasiado com o seu corpo. Estamos no palco para tocar e expressar as emoções
mediante os sons e a música mas a própria presença do músico no palco, o seu
comportamento deveria, em certa maneira, afetar o que transmitimos. A própria entrada
no palco nos torna parecidos aos atores. Somos, num certo sentido, os
intérpretes. Tudo isto deve estar em nós e quando já o temos somos capazes de
compreender e transmiti-lo.
Para finalizar, uma pergunta de mulher para mulher. A
música tem as suas regras. Um músico tem de ter sempre as unhas asseadas e curtas. Às vezes não lamenta que
não pode ter as unhas compridas e pintadas? Lembro-me da minha própria
experiência dos tempos da escola de música que sempre invejava as minhas amigas
quando tinham as unhas pintadas e compridas.
Acho que isto
depende das preferenciais pessoais. Eu lamento sempre durante o verão que não
posso pintar as unhas, por exemplo de rosa mas aproveito o facto que nos pés
também tenho unhas. Naturalmente isto não é o mesmo mas quando se toca as cores
nas unhas provocam distração, então é melhor não ter as unhas pintadas. Podemos
dizer que para mim isto não é um sacrifício muito grande. Com certeza depois de
um dia inteiro a praticar posso ver que não têm a melhor aparência porque
quando toco não presto muita atenção às minhas unhas. Nestas situações digo
sempre que isto é um dos charmes de ser pianista, que nalgum sítio há que ser
visto o efeito do duro trabalho que eu fiz.
Muito obrigada pela entrevista e pelo seu tempo.
Muito obrigada. Isto
foi um prazer para mim.
Liliana Wajrak
1º ano de mestrado
em Espanhol
(1) No âmbito do Congresso Internacional Língua Portuguesa -
Unidade na diversidade, organizado pelo
Departamento de Estudos Portugueses do Instituto de Filologia Românica da UMCS
e o Centro de Língua Portuguesa/Camões, Weronika Siewierska deu no Tribunal da
Coroa em Lublin um concerto. Do programa fizeram parte peças de Vianna da Motta,
António Fragoso, Villa-Lobos e Chopin.
Para mais fotografias do concerto ver: Recital de Weronika Siewierska
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