Mini guia pelo Porto segundo uma ex-estudante Erasmus
Chegou o outono. As folhas coloridas cobrem os passeios
nas ruas na Polónia e em Portugal. Com certeza em quantidade maior na Polónia,
porque o tempo em Portugal parece o do verão. O verão de São Martinho. Sente-se
o calor abafante misturado com o cheiro das castanhas assadas nas ruas do
Porto. Do Porto lindíssimo que cada vez mais torna-se o destino de viagem para
muitos turistas de todo o mundo.
Vista para o Porto e Vila Nova de Gaia dos
Jardins do Palácio de Cristal
A minha aventura com a Cidade Invicta começou há
mais que um ano. Sendo estudante do primeiro ano do mestrado em Estudos
Portugueses da UMCS escolhi a Universidade do Porto como a instituição para a
realização da bolsa do programa Erasmus +. A variedade da oferta que a FLUP apresentou
foi um dos fatores a favor da minha escolha. É óbvio que cada um tem a sua
preferência quanto ao objeto dos estudos. Contudo, vale a pena sublinhar o
facto de que o Centro da Linguística da FLUP é um dos pontos de referência mais
importantes e ativos no mapa dos estudos da língua portuguesa. Entre as
disciplinas que se podem escolher destaco as aulas no âmbito de tradução,
ensino de Português como Língua Estrangeira, aspetos culturais dos países
lusófonos, literatura ou cadeiras relacionadas com ciências da linguagem. Os
gostos não se discutem. Porém, para mim foi uma oportunidade única poder
frequentar as aulas do mestrado em PLE. Mesmo que não tivesse vocação para ser
professora de línguas as aulas foram muito úteis e deram-me uma perspetiva
diferente da língua portuguesa. Foi uma oportunidade de estudar o material que
não podia seguir na UMCS por falta das cadeiras adequadas. Além disso, não
posso omitir o facto de que os funcionários da UP sejam muito simpáticos e
prestáveis. Tanto os professores como as funcionárias do gabinete das relações
internacionais, o ponto fulcral para os estudantes Erasmus.
Vista para o Porto do Terreiro da Sé
Por outro lado, as pessoas podem dizer: estudar não é a
coisa mais importante durante o intercâmbio. É verdade. Para nós, filólogos, o
mais importante é imergir e ser como uma esponja, isto é, captar e assimilar
tudo o que estamos a ouvir à nossa volta. Erasmus para o futuro filólogo é
quase como uma viagem a Meca para um muçulmano. Em uma palavra: obrigatória. Poder
ouvir o português vulgar na Ribeira ou perto da Sé é inesquecível. Como dizem
os próprios portuenses: na norma nortenha em dez palavras ouvem-se onze
palavrões. E ninguém fica ofendido entre um c@r@**o e o outro. Pelo contrário.
Os palavrões no Porto e Norte já perderam o valor ofensivo e tornaram-se o pão nosso
de cada dia. Mas os palavrões e o léxico próprio não são a única diferença que
destaca a norma nortenha da norma padrão. Pelo contrário, os alongamentos vocálicos,
o sotaque diferente, a ditongação e tom alto que parece quase como se alguém
estivesse aos gritos. Para alguém habituado ao modo de falar dos lisboetas o
confronto com um tripeiro pode causar grande choque. Em comparação com as
alfacinhas os nortenhos até parecem ser muito pouco educados e antipáticos.
Nada mais errado! Os portuenses são muito simpáticos, abertos, gostam de ajudar
as pessoas e de brincar. Às vezes nós, estrangeiros, tornamo-nos as vítimas das
piadas que pouco entendemos quer por lacunas no domínio do léxico local quer
por causa de fala muito rápida e sotaque distinto, não tão fácil de compreender.
Contudo, uma visita ao Porto para um filólogo abunda em experiências novas que
não se aprende nem na aula de português na faculdade nem em outra parte de
Portugal.
O intercâmbio Erasmus é muito mais que uma viagem a um
país estrangeiro. É uma experiência de viver em condições bem diferentes das
que estamos habituados. A situação obriga-nos de sair da nossa zona do conforto
e muitas vezes temos de chegar aos acordos que resultam de diferenças
culturais. É claro que um estudante Erasmus das línguas está perante um dilema:
compartilhar o apartamento com outros estudantes internacionais ou alugar um
quarto no seio de uma família portuguesa para poder aprofundar o seu
conhecimento do idioma. No meu caso, optei pela segunda solução e tive 10 meses
de ótima experiência de ver de perto o que significa ser português, portuense e
...portista! Ouvir os gritos de alegria que chegavam ao meu quarto da sala no
primeiro andar quando o Porto estava a ganhar e as brigas simpáticas da dona da
casa com o vizinho benfiquista. Se alguém ainda duvida que o futebol é a
religião em Portugal tem de vir ao Norte do país. Alguém podia dizer: estavas a
viver com uma família, então não deves ter conhecido muitas pessoas novas. A
minha resposta é: um fator não exclui o outro. Conheci pessoas novas tanto de
países estrangeiros como outros portugueses.
Praça dos Leões com o Café Piolho ao
fundo e o edifício da Reitoria da UP à esquerda
O Porto é a cidade ideal para fazer amizades, porque não
é tão grande como Lisboa e não é tão pequena como por exemplo Vila Real ou
Covilhã. Na sua oferta da vida noturna abunda numa lista dos pontos de
interesse. Um deles é a Adega Leonor com o Café Piolho ao lado, perto do
edifício da Reitoria da UP na Praça dos Leões. A famosa Adega é o principal
ponto de encontro antes de começar a sua rota das discotecas. Durante os fins
de semana e nas vésperas dos feriados está cheia de pessoas que adoram conviver
com os outros ao ar livre. Nos dias de verão o pessoal reúne-se ainda antes da
noite no miradouro das Virtudes, onde acompanhados de umas minis, observam o
pôr do sol. Na minha opinião não é o pôr do sol mais lindo no Porto. Este podemos
vivenciar nos Jardins de Palácio de Cristal, observando o céu em cima da Ponde
de Arrábida com o sol a desaparecer no horizonte na Foz de Douro. Contudo, não
há melhor rua para passar a noite que Galerias de Paris! Várias discotecas mais
famosas do Porto estão localizadas lá. Porém, se alguém está a pensar sobre os
tamanhos das discotecas na Polónia até pode ficar muito desiludido, pois em
comparação as discotecas portuenses são mais pequenas e quase sempre estão
cheias.
Vista para o pôr do sol dos Jardins de
Palácio de Cristal
Por outra parte, quem precisar de descansar no Porto
também pode encontrar algo de acordo com o seu interesse. Como a palavra
«descanso» é muito subjetiva, pode significar formas de entretenimento
diferentes. Primeiro, há quem descanse fazendo as compras. Para este tipo de
pessoa a Rua de Santa Catarina é o lugar ideal. Localizada no coração do Porto,
perto da Batalha, apresenta uma variedade das lojas de roupa, calçado e
produtos regionais. Segundo, há quem descanse no seio da natureza. Portanto, é
recomendável visitar um dos vários parques e jardins do Porto. Temos bastante
escolha entre Jardins do Palácio de Cristal, Parque de São Roque, Parque da
Cidade, Parque e Jardim da Fundação Serralves ou Jardim Botânico. Terceiro, há
quem descanse participando em eventos culturais. A vida no Porto abunda em
concertos, exposições ou estreias de teatro. A Casa da Música e o Coliseu têm
uma oferta variada dos concertos de estilos musicais diferentes. Além disso, há
muitos museus na cidade que prendem e fascinam com as suas exposições. Na lista
obrigatória fica o Centro Português da Fotografia, Museu dos Descobrimentos,
Museu de Carro Eléctrico, Museu da Farmácia, Museu da Imprensa e muito mais!
Entre os teatros uma das paragens obrigatórias fica na Batalha, onde podemos
assistir a uma peça no Teatro Nacional São João ou no Teatro Sá da Bandeira. E
não é preciso ter muito dinheiro para poder aproveitar-se deste tipo das
diversões, porque parte dos eventos tem a entrada livre e a entrada para os
outros não custa muito. Portanto, é a situação ideal para o bolso do estudante.
Por último, existe o quarto grupo das pessoas que descansam quando... comem e
bebem. Este grupo quando aparecer no Porto tem a tarefa mais fácil, porque
praticamente em cada lugar come-se muito bem e com os preços razoáveis. E
claro, um ponto obrigatório na sua visita ao Porto são as caves de vinho do
Porto que ficam em Vila Nova de Gaia. Muitas vezes os portuenses gostam de
meter-se com os gaienses e dizem que a melhor coisa que a Gaia tem é a vista
para o Porto.
Vista para o Porto do cais de Gaia
Além das exposições e outros eventos culturais cada fim
de semana organizam-se feiras de artesanato e dos artigos vintage, aulas de ioga
ao ar livre, etc. O Porto é uma cidade muito ativa no seu desenvolvimento que
além das vistas belas tem algo mais para seduzir. É o ambiente que faz com que
os estrangeiros possam sentir-se como em casa. E foi por esta razão que voltei
para o Porto para realizar o estágio no âmbito do programa Erasmus +. Porque é uma
cidade mágica que encanta com as suas ruelas estreitas e casas revestidas com
azulejos. É uma cidade acolhedora e mesmo que tenha muitos estrangeiros
sente-se ainda esta «portugalidade» profunda do povo. E não apenas se sente!
Logo se absorve e põe na prática.
As casas típicas do Porto na Ribeira
Anna Krupa
Deu vontade de visitar! Um guia breve sobre o essencial do Porto. Parabéns e escreve mais! Vários temas para desenvolver, sobretudo o de "portugalidade". Não deixes de escrever!
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