Os escândalos artísticos na Polónia depois da transformação.

   O ano 1990 trouxe a transformação do sistema político na Polónia e com esta transformação a tão esperada liberdade de expressão. Os artistas sofreram bastante por causa dos comunistas que usavam a censura para manter a sociedade polaca obediente, que não protesta e para usar só uma palavra- que é estúpida. Por isso quando na Polónia instalou a democracia, os artistas começaram a respirar profundamente, estavam convencidos que com a liberdade de expressão viria a liberdade artística, por muito tempo escondida no fundo da gaveta. Infelizmente a sociedade polaca mostrou rapidamente que não é suficientemente madura e não sabe usar a liberdade. Como mostram os exemplos a Polónia ainda não é um país laico e o uso dos símbolos católicos como expressão artística termina em processo judicial vencido normalmente pelos defensores dos valores católicos. De uma pluralidade de incidentes escolhi os mais interessantes e que causaram as emoções contraditórias. Vale a pena prestar atenção às intervenções dos políticos e à atitude dos funcionários. Surge deles a questão se essas intervenções funcionam de acordo com os padrões dum país democrático.
   Em 1993 começa a nova época de censura na arte polaca. Katarzyna Kozyra, uma estudante da Academia de Belas-Artes de Varsóvia apresentou a sua obra "Pirâmide de animais". Inspirada pelo conto dos irmãos Grimm a instalação era composta por animais embalsamados: um cavalo, um cão, um gato e um galo e era acompanhada por um filme que apresentava a morte do cavalo. Apareceram os protestos contra a escultura e os processos contra a artista. 
 Em 1997 o comissário de Pavilhão da Polónia na Bienal de Veneza Jan Stanisław Wojciechowski proibiu a apresentação da obra do Zbigniew Libera "Lego- Campo de concentração". Campo de concentração”. 
 Em 1999 o governador de Łódź acusa Katarzyna Kozyra de ofensa dos sentimentos religiosos por fazer o cartaz “Laços de sangue” "Laços de sangue"onde juntou símbolos religiosos com a imagem de uma mulher despida. Após protestos dos partidos católicos os cartazes foram tapados ou retirados. 
 Em 2000 o ator Daniel Olbrychski acompanhado pelas câmaras de televisão destruiu com uma espada o fragmento da obra de Piotr Uklański “Nazis”. O Ministro da Cultura exigiu um comentário do artista em que explicasse o sentido da exposição. Uklański não acedeu à intervenção e por fim a exposição foi fechada. No mesmo ano aconteceu o escândalo seguinte.  
  Uma escultura de Maurizio Cattelan causou problemas. Essa obra representava João Paulo II derrubado por um meteorito. O jornalista Wojciech Cejrowski tentou cobrir a escultura com um lençol mas finalmente alguns membros do parlamento estragaram a instalação e afastaram o meteorito. Um dos membros do parlamento escreveu também uma carta ao primeiro-ministro para destituir o funcionário de origem judia (Anda Rottenberg), que era a diretora da galeria. Por fim em 2009 este homem foi acusado pela destruição da escultura que custava 40mil zlotys.
 No outono de 2001 pela primeira vez foi censurada "A Paixão" de Dorota Nieznalska durante a sua exposição em Białystok. A diretora da galeria ordenou que cobrissem com papel a foto pendurada na cruz. Depois, em consequência do escândalo provocado pela emissão da reportagem na televisão sobre a exposição, a artista foi acusada da ofensa dos sentimentos religiosos. O júri considerou-a culpada e só no ano 2010 foi absolvida. Neste artigo queria mostrar que apesar de muitas mudanças que sofreu o nosso país depois da transformação do sistema, a receção de arte permanece tradicional e paroquial. Os exemplos acima mencionados são só alguns das intervenções do estado na arte contemporânea que deveria ser independente. As obras dos artistas polacos são apreciadas no estrangeiro, ganham prémios prestigiosos mas na Polónia ainda são atacadas, provocam os piores emoções. Se calhar a sociedade tem medo de conversar sobre os temas ainda dolorosos mas sem este diálogo é impossível considerar a Polónia como o país democrático e aberto à modernidade.

Monika Dobrowolska

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