Vamos às compras!? Outra vez...

Sou mulher e não gosto das compras - esta frase é quase como um oximoro. Mas eu realmente não gosto das compras. Desde pequena que se notava o motim no meu comportamento: 
 –Abre a boca! 
 –Não.
 –Diz “a”.
 –“b”. 
 Mas não ia falar da minha meninice. As compras, o consumo, a publicidade, o gasto de dinheiro - não, isto não é o meu lado mais forte (sobretudo a última questão, o dinheiro é como o meu amigo... virtual, mas continua sendo o meu amigo!), então digo um calado e indeciso ‘não sei’ às compras. Pois não se pode evitar o consumo nem reduzi-lo a zero, então não sou tão masoquista para obrigar-me a sofrer todos os dias. O que é que eu compro? As coisas mais necessárias para viver é claro, a comida, os produtos da higiene pessoal, o chocolate, os cosméticos, os brincos... Só para escrever composições tenho de comprar as canetas todos os meses. E quando ando pela zona das canetas perto encontram-se outras coisas que eu acho imprescindíveis: o coador (está em liquidação!), a laca para o cabelo, entre outras coisas que naquele momento acabam. Além disso, um cartaz grande lembra-me de que só hoje posso comprar as meias que normalmente vendem com o preço três vezes mais alto. Concluindo, eu pertenço ao grupo “consumidor normal”, ou seja, costumo comprar o que é necessário e o que me dizem que necessito. Quem? Os amigos, a sociedade, a moda, o apresentador na televisão. E repito outra vez: não gasto das compras, as compras gostam de mim.
 Edyta Marzec 

 O mundo de hoje oferece-nos um tipo de vida muito comercializado, cada um diz-nos que precisamos de alguma coisa, que temos de comprar o novo telemóvel ou vestido. Acho que temos de parar, desligar a televisão e deixar um pouco este mudo artificial. 
 Há um filme que se chama `Into the Wild´ e mostra a história de Christopher McCandless, um jovem que deixou a sua vida de luxo e o seu prometedor futuro universitário, cortou os cartões de crédito, queimou o seu dinheiro, pegou numa mochila e foi descobrir o mundo. Praticamente sem nada, viajou à boleia por uma parte da América e conseguiu chegar ao seu objetivo- Alasca. Ali, com vinte e quatro anos, morreu no meio do nada, sozinho. Ele tentava viver sem as coisas que considerava desnecessárias, não usava o carro, comia o que encontrava pelo caminho ou o que lhe davam as pessoas, dormia onde podia. Gostei muito deste jovem, que tinha a cabeça cheia de ideais tirados dos livros de Jack London e Leo Tolstoy e que tinha coragem para viver a vida à sua maneira. 
 Depois de ver este filme, fiquei a pensar sobre como as pessoas complicam a vida com todas as coisas inúteis que tem. Não acho que o vigésimo vestido ou o novo telemóvel sejam tão importantes. As pessoas compram a roupa elegante só para que os vizinhos os vejam, compram cremes, máscaras e pós para ficarem mais lindas e gastam muito dinheiro nas férias num hotel de cinco estrelas, com o SPA, piscina e ginásio, como se uma noite numa tenda sem um jantar elegante pudesse matá-los. Temos cada vez mais dinheiro e separamo-nos da vida real e da natureza com uma muralha de plástico e vidro, como se fossemos mais belos e mais perfeitos do que o resto de mundo, como se um batom e um verniz de unhas nos tornasse em seres supernaturais. E só depois compreendemos que o mundo verdadeiro é o que viajamos a pé e tocamos com as nossos mãos, e não o que vimos na televisão ou pelo vidro dum carro. Eu não faço muitas compras, mas há uma coisa que compro sempre e não penso deixar de fazer. São, obviamente, os livros. Mas para mim, isto não é só mais um produto comercial, mas a história de algumas pessoas, seja verdadeira ou inventada, não importa. Uma livraria é um lugar com alma, e não é fácil encontrá-lo, porque não há muitas. No nosso mundo cheio de comércio, temos de parar por um momento e pensar sobre a nosso estilo da vida. Acho que se aprendemos a passar um dia a, por exemplo, fazer desporto em vez de estar no centro comercial e temos mais contato com a natureza, seremos mais felizes. 
Sylwia Jabłońska

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