A minha avó, Maria Cieśluk

A minha avó, que hoje tem 88 anos, nasceu em 1926 em Grodno que nesta altura era parte da Polónia. A história da sua vida é provavelmente bem parecida com a dos seus colegas, mas tão diferente da nossa.
  O seu pai lutou nas Legiões de Piłsudski e durante uma das suas expedições militares, em Grodno, conheceu a sua futura mulher - Maria. Depois de casados decidiram ficar nesta cidade. A minha avó foi a terceira dos seis filhos de Józef e Maria. Teve dois irmãos – Stanisław e Józef e três irmãs – Genowefa, Janina e Irena.
  Quando a minha avó tinha dois anos a família mudou-se para Mielnik – cidade natal do seu pai. Até 1939 levava uma vida como as outras crianças – uma vida normal. Frequentava a escola primária e durante as tardes ajudava à sua mãe nos trabalhos domésticos.
  Mas em setembro de 1939 já ninguém pensava em ir às aulas. As escolas locais foram fechadas. Começou a guerra. O rio Bug, que atravessa Mielnik, passa a ser a fronteira entre a Alemanha Nazi e a União Soviética. Esta linha de demarcação entre ambas as potências traz consigo graves consequências para os habitantes da cidade. Ao fim do ano começa a ocupação soviética que vai durar até 1941. Durante este período a família da minha avó é repetidamente invadida pelos russos que roubavam tudo o que parecia ter algum valor. Em 1940 os soviéticos obrigam a família a deixar tudo e mudar-se para Grabowiec (uma aldeia a 5 km de Mielnik).
 Em 1941 o território do município já está sob o controle nazi. Com a chegada dos novos invasores começam as deportações de população local para o território alemão na Prússia Oriental onde a gente é utilizada como mão-de-obra escrava. A minha avó vai num comboio de carga para Hajde Kruk (perto de Królewiec, hoje Kaliningrad) em 1942. Durante a “seleção” é escolhida para os trabalhos forçados numa exploração agrícola. O seu primeiro dono é um homem cruel, sem escrúpulos. Odeia os polacos e abusa dos seus subalternos. A minha avó trabalhou ali um ano e depois foi enviada para outra exploração agrícola. Ali faz amizade com Zuzanna - filha do seu novo dono. Começa a trabalhar como cozinheira da casa. Nesta altura os russos que não conseguiram fugir do inimigo, tornaram-se prisioneiros de guerra - foram mal tratados, passavam fome. Zuzanna com a minha avó traziam-lhes pão. Um certo dia um alemão apanhou a minha avó em flagrante e ordenaram fuzilá-la. O seu dono decidiu defendê-la e salvou a sua vida porque a tratava quase como filha.
Quando a guerra acabou Maria voltou para Mielnik. Em 1958 foi atropelada por um carro. Depois disso teve muitas problemas de saúde. Esteve em coma e os médicos não lhe davam muitas esperanças de recuperação. Mas a minha avó venceu a luta contra a morte e passados dois anos casou-se com o meu avô. Trabalhava como cozinheira nas festas de casamento e mais tarde como funcionária pública. A minha avó ainda mora em Mielnik na mesma casa em que passou infância. Tem três filhos, muitos netos e até bisnetos. 

Patrycja Cieśluk e Dominika Ładycka
1º ano de Mestrado em Português

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