A mentalidade polaca
Cada país carateriza-se por coisas
diferentes, tem as suas regras, crenças, a sua cultura própria a tradição que
não muda há anos. O famoso provérbio diz “tal pai, tal filho”... Acho que
podemos dizer a mesma coisa quanto à mentalidade do povo “tal país, tal
costume”. Na minha opinião é muito interessante que cada país tem as suas
normas culturais, costumes sociais e a sua
mentalidade própria. Mas penso que o que nos distingue mais é o modo de pensar.
Viajando pelo estrangeiro, além das paisagens idílicas, dos monumentos
extraordinários e da comida regional, observamos sempre o modo de se comportar
do povo local. Interessam-nos os hábitos, as conversas e a hospitalidade das
pessoas. A mentalidade é algo que nos diferencia, que faz com que as pessoas se
sintam originais e únicas. Não sei se consigo apresentar a mentalidade polaca
objetivamente, mas vou tentar fazê-lo com toda a minha sinceridade.
Inicialmente, acho que vale a pena
mostrar o lado bom da nossa maneira de pensar, dos nossos hábitos, da nossa
bondade e dos problemas que conseguimos resolver razoavelmente. Inicialmente
posso dizer que os polacos são muito hospitaleiros. Gostamos de turistas e
temos muito prazer de obsequiá-los. Tratamo-los com muita atenção, com um
sorriso nos lábios, até acabarmos por ter amigos estrangeiros. Acho que esta abertura e hospitalidade é uma
consequência da nossa religião. A maioria dos polacos é católica, cada domingo
as igrejas estão cheias de pessoas de gerações diferentes. A religião cristã
ensina que é preciso tratar os outros de tal maneira como nós queríamos ser
tratados. Portanto, a nossa bondade, com
base na religião, é o nosso traço de caráter nacional.
Outro mérito que vale a pena
mencionar é a nossa laboriosidade e diligência. Acho que somos trabalhadores e o
nosso gosto pelo trabalho merece a admiração. Para fazer prova do meu ponto de
vista, basta olhar para os polacos na Inglaterra ou Alemanha. Por um lado, é
muito triste que os jovens emigraram e ainda emigram para o estrangeiro para
arranjar um trabalho digno, porque na Polónia é muito difícil ganhar a vida,
mesmo depois da escola superior e sem ter as costas quentes. Mas voltando à
nossa vantagem nacional - penso que não temos medo do trabalho duro, severo e
exaustivo. Temos talento para muitíssimas profissões. Então, tenho pena que o
nosso governo não possa aproveitar este benefício.
Outra vantagem, que pessoalmente
gosto mais, é a capacidade de unir-se. Não somos apáticos e frios quanto à
pobreza ou tragédia dos outros. Conseguimos ajudar as pessoas desconhecidas que
estejam numa situação extremamente miserável. Muitas vezes organizamos as
festas (como “Wielka Orkiestra Świątecznej Pomocy”) para socorrer aos mais
carenciados. Auxiliamos financeiramente fundações, organizações e outras formas
de ajuda. A habilidade de ajudar nos casos de inundações, incêndios, doenças
graves ou pobreza é algo que nos distingue.
Agora, é preciso mostrar o reverso
da medalha. Os polacos também têm o comportamento e os hábitos que merecem o
desprezo. O que é mais famoso é o nosso lamento. Queixamo-nos de tudo... do
salário, do nosso chefe, do estado de saúde, do marido/da esposa, do governo,
dos nossos vizinhos. Não podemos gozar a vida. Não estamos contentes com
pequenas nadas. Achamos que só uma grande fortuna (no sentido da riqueza) ou a
fama pode trazer a felicidade.
O que me irrita muito é a nossa
atitude quanto a álcool. Não conseguimos ir a uma festa sem uma garrafa de
vodca. Abusamos de bebidas alcoólicas e medimos a nossa coragem com a
quantidade de latas de cerveja. Com toda a seriedade, acho que temos um grande
problema alcoólico no nosso país. Em quase cada família há pessoas que não têm
limite em beber, e o que é triste, não têm vontade de mudar a sua vida, mesmo
que tenham consciência do seu problema.
Falando da família, agora é o
momento para abordar o problema seguinte - os nossos hábitos familiares. Para
mim, a família é fundamental no “núcleo duro”. São as pessoas mais próximas, e
penso que de maior valor. Lamento que na cultura polaca não demos a ênfase às refeições
familiares. Almoçamos e jantamos juntos só no caso duma festa de aniversário ou
aos domingos com os avós. É essencial promover refeições em família com pais e
filhos a comer em conjunto. Isto faz com que nos aproximemos dos outros
familiares e temos tempo para conversar e desfrutar juntos.
A nossa triste desvantagem é também
a baixa autoestima e sentido de dignidade. Não sabemos como elogiar os outros.
Não conseguimos dar parabéns ou gozar do sucesso do vizinho. Pomos sempre em
causa o êxito dos outros. Achamos que esse triunfo se passou graças ao dinheiro
roubado ou algum esquema. Em consequência, somos invejosos, porque vemos sempre
a casa maior, o carro mais caro, o ordenado melhor ou o parceiro mais bonito.
Interessa-nos a vida das celebridades, dos vizinhos, dos “famosos por ser
famosos”. Gostamos de fingir não ouvir ou ver, mas temos sempre um bom pretexto
para conversar sobre a vida dos outros.
No final, queria apresentar uma
coisa muito irritante relacionada com a, já mencionada acima, conversa – os
palavrões. Quando ouço os garotos de 10 anos a dizer palavrões, posso
justificar esse comportamento com a idade deles. As crianças queriam, e ainda
querem ser tratados como adultos, a sério. Mas perco a minha paciência quando o
povo usa “pu..” como virgula durante uma conversa. Que falta de educação e
comportamento grosseiro! Acho que os polacos interpretaram mal “a liberdade de
expressão”.
Com que palavras podemos designar os
polacos? Amigáveis, hospitaleiros, gentis, religiosos? Ou será que podemos usar
palavras como desconfiança, hipocrisia, xenofobia e falta de tolerância, atraso
mental? A resposta não é fácil. Para saber que palavras melhor nos caraterizam
seja bem-vindo à Polónia!
1º ano de mestrado em Estudos Portugueses
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