No fascinante som da concertina - GRUPO DE CONCERTINAS "ESTRELAS DA SERRA"
Ouvi
pela primeira vez o mágico som da concertina, na Feira Tradicional em Pinhel.
Era a minha primeira visita a Portugal e tudo parecia novo e fascinante. Tive
muita sorte de conhecer o verdadeiro Portugal, a terra dos portugueses vista
através dos olhos deles. Durante os três longos dias da Feira vi os costumes
tradicionais, provei comida e bebidas típicas, mas algo me comoveu muito. Quando
o festival estava a encerrar um rapaz tirou da sua mochila um instrumento muito
parecido com acordeão e começou a tocar. De repente todos que por ali estavam, pararam
de arrumar as suas coisas, rodearam o jovem tocador, uns começaram a cantar
enquanto outros juntaram-se em pares e ao som do instrumento abalaram
alegremente. A festa não acabou…
Depois
descobri que o jovem tocador que hipnotizou todos era membro do grupo
folclórico “Estrelas da Serra” e o instrumento chamava-se concertina. Deste
então, a partir desse momento interessei-me mais pelo instrumento, para mim
mágico, e pelo próprio grupo de concertinas “Estrelas da Serra”. Assim conheci Salete
Pinto, coordenadora do grupo ”Estrelas da Serra” e cheguei a entrevistá-la. Estes
foram os resultados:
Katarzyna Janowska: Bom dia Dona Salete, é um prazer
poder estar a entrevistá-la. Já tive a oportunidade de ver a sua paixão e
carinho pelo que faz, agora queria que nos falasse um pouco do seu grupo de
concertinas “Estrelas da Serra” Porquê a escolha da concertina?
Salete
Pinto: A concertina é um instrumento associado à animação, à folia. Na região
centro tinha perdido protagonismo, muito à custa da globalização verificada a
partir dos anos 80. No entanto, com o apelo à valorização das tradições, do
património cultural, material e imaterial, surgiu um pouco por todo o país um
movimento que apela ao patriotismo e deste modo ao respeito por tão popular
instrumento, podendo mesmo afirmar-se que é considerado o instrumento do povo,
apesar do seu elevado preço.
SP:
O Grupo de Concertinas Estrelas da Serra foi criado pelos vários elementos que
o constitui, a isso, se ficou a dever o facto de cada interveniente nutrir uma
especial predileção pela concertina, e ainda o facto de à época, se verificar
uma certa preferência pelo som alegre deste instrumento.
KJ: E porquê este nome?
SP:
O nome foi proposto pela pessoa responsável pela orgânica do grupo. Pesou o
facto de a região a que o mesmo pertence estar inserida no Parque Natural da
Serra da Estrela, nome dado à cadeia montanhosa
onde se encontram as maiores altitudes de Portugal Continental, constituindo a segunda mais alta montanha de Portugal continental e insular (apenas
a Montanha do Pico, nos Açores, a supera). Foi
feito assim, um trocadilho com o nome do grupo e o da região a que pertence.
KJ: Como foi no início?
SP: O início apresentou-se como uma batalha
ganha, algo que muitos aspiravam com bastante ansiedade. A primeira
apresentação ao público ocorreu nas comemorações do dia 10 de junho, dia das
Comunidades portuguesas, dia de Portugal e de Camões, numa das Associações às
quais o grupo tem prestado serviço comunitário e social. Porem limitou-se a um
repertório reduzido e ainda acompanhados pelo professor.
KJ: Como é constituído o grupo?
SP: O
grupo é bastante heterogéneo. É constituído por doze elementos, três femininos
e nove masculinos, com idades compreendidas entre os onze e os sessenta e dois
anos. Há um elemento que toca bombo e pandeireta e todos os restantes tocam
concertina, destacando-se quatro deles como polivalentes na área do canto.
KJ: Quem ensina as pautas musicais e onde ocorre
essa aprendizagem?
SP:
Após quatro anos consecutivos de aprendizagem com o primeiro formador,
prescindiu-se da sua colaboração em benefício de um dos elementos do próprio
grupo, visto este deter uma certa facilidade na aquisição de conhecimentos e
assim ele próprio poder dar continuidade ao projeto a menor custo para todos. Os ensaios, bem como a apreensão de
conhecimento de novos temas, ocorre numa escola desativada, onde tomou assento
a Associação Cultural, Desportiva e Recreativa de São Miguel do Jarmelo, uma
freguesia pertencente à cidade da Guarda.
KJ: Quais os maiores sucessos já alcançados pelo
grupo?
R: Ao
longo da sua existência o grupo já foi protagonista de diversos eventos, nos
quais teve grande sucesso, sendo considerado um dos mais multifacetados do
género musical, tendo já atuado em palcos internacionais como Espanha e França.
Em Portugal tem efetuado atuações um pouco por toda a região norte e centro.
Contudo, o maior êxito é a canção “Guarda dos Cinco Fs”, tema composto por um
constituinte do grupo, que faz referencia ao património histórico-cultural da
cidade da Guarda.
KJ: É difícil tocar concertina? O que é
necessário para aprender?
SP:
Efetivamente não é um instrumento de fácil aprendizagem, porém, com muita
pertinácia, dedicação e algum talento, ao fim de alguns meses de aprendizagem
já será possível exibir um pequeno repertório. Para que tal aconteça é
necessário música convertida em números e adquirir uma concertina. O mais
aconselhado para a fase inicial, será um instrumento em segunda mão, pelo facto
de ser essencial a exploração do mesmo, tornando-se comprometedor para uma
concertina nova, pois, o seu preço de aquisição é um pouco elevado, as mais
módicas variam entre os 1.500€ e os 2500€. É também de referir que a sua má
utilização implica um desgaste muito grande, ocorrendo frequentemente quebra
das palhetas, as palhetas são finas lâminas retangulares de metal ou madeira que
são montadas sobre uma placa de suporte. Para cada
palheta, existe na placa uma fresta com o tamanho exato para que a palheta se
possa movimentar livremente dentro dela sem que haja folgas, se a concertina
for erradamente manuseada as palhetas terão de ser concertadas, tendo um custo
acrescido de 25€, por cada uma.
KJ: Qual é o repertório
que o grupo exibe? Qual é a vossa inspiração?
SP: O repertório é essencialmente música
tradicional portuguesa, e a fonte de inspiração tem sido o Cancioneiro
Português e os artistas populares mais consagrados do atual panorama popular,
tais como: Quim Barreiros, Emmanuel; Sons do Minho, e também alguns temas de
Amália Rodrigues, convertidos do fado para música ligeira.
Esta foi a última pergunta,
muito obrigada e desejo muitos sucessos para as “Estrelas da Serra”
Katarzyna Janowska
1º ano de mestrado em Estudos Portugueses
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