Manoel de Barros 1916-2014
No dia 13 de novembro de 2014, Fábio Diegues, da
Editora Planeta, enviou ao nosso Departamento de Estudos Portugueses da UMCS a triste noticia:
Nota de falecimento: Manoel de Barros – 1916
- 2014
“Mais alto que eu só Deus e os passarinhos.
A dúvida era saber se Deus também avoava.
Ou se Ele está em toda parte como a mãe
ensinava.”
Memórias inventadas para crianças – trecho do poema ‘Brincadeiras’
A Editora Planeta lamenta a perda de um dos
maiores poetas do Brasil.
Manoel de Barros foi voar com seus pássaros e as
suas palavras.
E como a “mãe ensinava”, temos a certeza de que
ele estará em todas as partes através da eternidade dos seus poemas.
Nossos profundos sentimentos à família, aos
amigos e a todos os seus fãs e leitores.
Editora Planeta do Brasil
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O passamento entristeceu a todos os leitores. Para quem
convive com a produção poética de Manoel fica com a
certeza de que ela o eternizará. A poesia de Manoel de Barros brota de um cotidiano que
amanhece pronto, sem perspectiva de uma rotina nova e que, por isso, tem que
ser desfeito, inventado, fantasiado para quebrar a monotonia... Para tal, é preciso o poeta, que sabe
inventar, que percebe a sabedoria existente no marasmo do cotidiano, sensível com
as coisas insignificantes, da natureza pronta...
Barros brinca com
verbos, neologismos, joga com palavras, incorpora elementos humanos à natureza,
transgride regras gramaticais, desvia ortograficamente as palavras, abusa das
figuras de linguagem, fere as frases lógicas, enfim, sua poesia, reinado da
linguagem coloquial, mobiliza o leitor e o entroniza no universo pantaneiro.
O poesia do poeta deflagra e desbrava todo um cenário
geográfico brasileiro, interiorano, mas não só este, como também o linguístico,
percorrendo os caminhos da oralidade e aproximando os leitores da variante
pantaneira e acenando para uma das dimensões que o português brasileiro toma.
Ao entrevistá-lo, a atriz e jornalista, Bianca
Ramoneda, autora do livro "Só", escreveu: “A poesia de Manoel de
Barros é essencial não apenas para aqueles interessados em estudar rios, mas
também, e principalmente, para aqueles que atropelados pelos excessos - de
trabalho, de informação, de desejos - sentem uma necessidade vital de
delicadeza e simplicidade. Mas Manoel nos passa a perna com sua simplicidade
extremamente sofisticada. Ele tripudia das palavras, cria novos quebra-cabeças
com a linguagem, rompe a lógica e nos ensina a "desaprender". O
Pantanal é o cenário dessa poesia, berço do poeta, que fala do homem
contemporâneo através do pantaneiro. E nos propõe um mergulho em nossas
próprias águas para entrarmos em contato com aquilo que somos na verdade, com
nossas origens, nossa pureza que sobrevive escondida.”
Barros ao lhe falar de sua poesia diz:
“Gosto dos rios. E gosto mais quando eles estão
nas margens dos meninos, dos pássaros, das árvores, das pedras, das lesmas, dos
ventos, do sol, dos sapos, das latas e de todas as coisas sem tarefas urgentes.
Os rios são uma das fontes da minha poesia porque as garças posam neles com os
olhos cheios de sol e de neblina. Porque as rãs paridas nas suas margens
gorjeiam como os pássaros. Porque as libélulas, também chamadas de lava-bundas,
farreiam na flor de suas águas. E porque o menino, em cujas margens o rio
corre, guarda no olho as coisas que viu passar.”
Dra. Natalia Klidzio
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