De um idioma para outro

A profissão de tradutor ou ainda de intérprete é uma das mais antigas do mundo. Na Antiguidade consistia em assegurar a comunicação ao nível económico entre os povos. Depois, as traduções da Bíblia permitiram aumentar o número de cristãos e também desenvolver a consciência deles relativa à fé. Primeiro, a obra foi traduzida palavra por palavra. Mas depois de algum tempo o autor da Vulgata constatou que o mais importante era o sentido. Foi São Jerónimo. Nos séculos seguintes a atividade de traduzir tornou-se um tipo de exercício de língua e de estilo que podia constituir uma fonte de ideias para escrever outras obras. Naquela altura os tradutores adotavam o texto original modificando-o muito. Felizmente deixaram esta prática. Hoje em dia já não se traduz só palavras, mas também a cultura. 
Segundo J. Błoński, um crítico polaco, a tradução é sempre tratada como um plágio cuja publicação com o nome do escritor é um tipo de mistificação. O plágio é um processo durante o qual o tradutor adota uma obra de alguém. Porque traduzir um texto e não o adotar não é possível. O tradutor torna-se coautor. De ponto de vista das mudanças que ele introduz no texto original, ele é coautor e ao mesmo tempo mentiroso. A mentira voluntária ou involuntária faz parte desta profissão. O tradutor deixa sempre vestígios pelo menos por causa das diferenças linguísticas. Mas o objetivo é mentir o menos possível. 
Os textos mais difíceis de traduzir e nos quais podemos observar o maior número de mentiras são os textos literários. Neste caso o tradutor torna-se escritor criando numa outra língua. E não se pode limitar só à „transmissão” do conteúdo, mas é igualmente preciso que ele leve em consideração a forma. Além disso, as sensações e emoções estéticas e afetivas têm que ser comparáveis a essas provocadas pelo original. Isto não é fácil, mas o problema do tradutor não acaba aqui. Ainda é necessário que ele escolha uma estratégia do ato de tradução. Existem duas opções: deixar as marcas do idioma do original e simultaneamente produzir o efeito de estranheza ou traduzir de tal maneira que o leitor leia o texto como se fosse o original. Ambas estratégias trazem perdas e ganhos. Na primeira o leitor pode, por um lado, descobrir a cultura e a particularidade do idioma, mas por outro, a leitura pode parecer difícil e exigente. Na segunda maneira de traduzir a situação inverte-se: o leitor lê a tradução como se não a fosse, está em situação „confortável”, perdendo o exotismo proveniente do original. 
 O bom tradutor faz uma mistura de duas estratégias, graças à qual pode criar um texto que, além de transmitir mensagens, introduz também a cultura e a propriedade da língua fonte. Para que a tradução seja um sucesso, o tradutor tem que conhecer perfeitamente a língua estrangeira e a sua língua materna. Ademais, um bom tradutor é um erudito que conhece largamente a literatura e que sabe escolher o texto que vai traduzir. O bom tradutor é um pesquisador quando compara unidades lexicais, trabalha sobre equivalentes, busca informações sobre a história, civilização. O bom tradutor é, ao fim, um segundo autor. Cria um novo texto e é sempre modesto. Nunca se sabe a quem é devido o sucesso mundial de um livro … ao seu autor ou ao coautor?

Barbara Kęsik
2º ano de Estudos Portugueses

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