Aquela mulher dos sonhos...


Muitas vezes, quando tento dormir, sonho com a mulher que quero ser. Uma mulher forte, bela, ágil. Uma mulher que sabe como resolver um problema, que não foge para o mundo das emoções. Ela nunca tem rosto, é anónima. Acho que não há uma mulher como a que eu desejo ser.
            Porque nunca quis ser uma princesa, Marilyn Monroe, Lady Gaga ou Joana d´Arc? Simplesmente porque sempre quis ser homem. Quando era pequena não gostava dos comentários da minha mãe, que sempre me disse que não podia ir com os meus amigos brincar porque era perigoso. E se fosse um menino? – perguntava a pequena Natalia. A minha mãe respondia que sim, então podia. Naqueles momentos apanhava um pau e tentava ser mais masculina do que os meus amigos. Subia às árvores, saltava dos telhados e era o cavaleiro mais corajoso do grupo todo. A minha mãe viu e decidiu que não posso brincar com os meninos. Levou-me para a quinta da minha avó e ali com livros para meninas, cresci até os 12 anos, quando foi para Espanha.
            Foi a primeira vez que tive amigas. Sempre foram rapazes, agora duas raparigas mostravam-me um mundo diferente, cheio de cultura e linguagem distintas. Não gostei das conversas sobre as compras. Não gostei da busca dos namorados. Ainda era pequena, não queria um namorado, tinha muitos livros por ler e canções por ouvir. Não tinha tempo para rapazes.  Desapareci num mundo das fantasias, Tolkien era o meu melhor amigo, Galadriela uma ninfa mágica e eu um dos elfos à procura das aventuras. Uma mercenária com a sua espada, preparada para lutar e procurar tesouros. Outras vezes era Eira, uma mulher tranquila e normalmente pacífica, que conhecia todos os segredos das ervas. Amava todos os seres vivos e ajudava, sem nada em troca. E eu na vida real queria ser como ela. Achava que para conseguir a felicidade só precisava dum sorriso de outra pessoa.
            Depois de seis anos voltei para a Polónia com mais experiência. Já conhecia os meus desejos. Queria fazer algo para mim mesma, não só estudar para que a minha mãe seja orgulhosa de mim. E então conheci o Treinador. Era só três anos mais velho que eu e há seis praticava esgrima. Era erudito, entendia da lógica e dizia coisas muito interessantes. Ensinou-me que um humanista deve saber um pouco de cada tema. Que não está bem visto que uma mulher esteja bêbada e mais quando está rodeada de homens também bêbados. Que levar uma navalha como proteção é ainda mais perigoso do que não levar nada. Explicou-me que uma pessoa não precisa de álcool, tabaco nem drogas para ser feliz. Que a euforia produzida pelo treino é melhor, não custa dinheiro e é muito mais saudável.
            O Treinador é o meu herói. Não é uma mulher, mas tem todas as qualidades que eu queria ter e normalmente comporta-se como eu me comportasse. A partir dele desenhei a mulher dos meus sonhos, uma mulher ideal. E tentarei ser como ela. Ou como o Treinador talvez.

Natalia Sławińska

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