A vida na Polónia nos tempos da PRL e os seus paradoxos

De vez em quando é bom relembrar os tempos dos nossos pais e avós olhando para as fotografias. Na casa dos meus pais há muitos álbuns com fotos da sua infância e juventude. Especialmente uma chamou a minha atenção. A fotografia dos meus pais quando eram estudantes tirada num clube onde o meu pai desempenhava a função de disco-jóquei. Isto não é uma fotografia de pose como podemos ver em cada rede social. Foi tirada espontaneamente, e por isso é tão extraordinária. Apresenta os meus pais sentados num alto-falante enorme e naturalmente vestem a roupa da época. O que é mais notável é a gravata borboleta pontilhada. Um dia encontrei-a numa gaveta. O meu pai guardou-a até agora como uma lembrança da juventude.
Quando penso nos tempos da PRL (República Popular da Polónia) vejo as fotografias em cor de sépia, as filas enormes de gente procurando os produtos de primeira necessidade, nas lojas as prateleiras quase vazias, os colares de papel higiénico e os trabalhadores pintando a passagem de pedestres dum modelo de cartão. Para ver tudo isto agora basta visitar o museu de PRL em Gdansk. Porém, para entender aquela realidade é preciso perguntar às pessoas que a viveram.
Começando pela moda desta época que foi ainda mais extravagante do que agora. Lembro-me duma história que o meu pai me contou. Quando os jeans começaram a estar na moda, só se podia comprá-los nas lojas PEVEX, mas eram muito caros. Custavam 17 dólares. Em comparação, o salário-base era de 3 dólares. Então teve de poupar durante muito tempo para comprá-los. Além disso, a história não termina assim. O que estava mais na moda eram os jeans que parecessem velhos, por isso, era necessário gastá-los com um tijolo, fazendo uns buracos. Dizem que eram quase indestrutíveis. Também estavam na moda as calças chamadas “boca de sino”. Eram muito apertadas em cima e tinham até 40 centímetros de largura nos em baixo. O comum eram as meias brancas que acompanhavam cada sapato preto. Quanto aos sapatos para as mulheres, eram vendidos junto com a mala da mesma cor. O mais divertido era o corte de cabelo estranho, chamado ‘ao macaco’ que constituía numa franja exuberante.
Agora passemos para uma loja típica da PRL. Hoje em dia não podemos imaginar aquelas bichas enormes e as cadernetas de racionamento que permitiam comprar para um mês: uma barra de manteiga, uma barra de sabão ou uma tablete de chocolate trocável por uma garrafa de álcool. Era óbvio esperar durante todo o dia e não conseguir arranjar nada. Nas lojas penduravam os cartazes com letras como: "Os produtos já tocados são considerados vendidos" ou "A loja está fechada porque não está aberta". Os produtos como a carne ou enchidos embalados em papel de jornal, mas era comum que às vezes nas prateleiras havia só vinagre e mostarda. Agora parece incrível mas isto era a realidade da PRL.
No que diz respeito às relações sociais e comportamento das pessoas era natural a corrupção. Não se podia tratar de coisa nenhuma numa repartição sem oferecer algum presente, por exemplo: um chocolate, alguma bebida alcoólica ou um ramo de flores. Também era típico preparar algum bolo e trazê-lo para o trabalho no dia do imieniny (1). Este costume existe ainda hoje mas tem origem na PRL. Outro dia festivo celebrado foi o dia das mulheres. Nesse dia os homens presenteavam as mulheres com um cravo vermelho e meias (normalmente não se podia comprar).
Todas essas imagens da vida quotidiana podem-se ver nos filmes desses tempos como “Detesto a segunda-feira” ou “Miś” que apresentam a realidade um pouco embelezada mas ao mesmo tempo muito divertida. Achei sempre os anos 70 como uma época coloria e alegre, despreocupada enquanto a realidade era um pouco diferente. A PRL era indubitavelmente uma época de paradoxos onde a coca-cola custava 1 dólar e onde as pessoas não sabiam como gastar o dinheiro porque não havia o que comprar. Além disso a imagem deste período na Polónia é um pouco deformada.
Emilia Wróbel
3º ano de Filologia Ibérica

(1) Seguindo o calendário católico dos santos, quem tenha o nome de um santo festeja no dia desse santo. Por exemplo hoje, 26 de Janeiro, os polacos e polacas que se chamam: Paula, Skarbimir, Leon, Tymoteusz, Tytus, Leona, Wanda, Zeligniew, Ksenofont e Małostryj celebram o dia do seu nome.
 


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