Atrevo-me a sorrir ou não me atrevo?

Um dia normal como todos, chega o teu autocarro, entras e após ocupares um assento passas a ser um companheiro de umas quantas pessoas ao teu lado. De repente recebes uma mensagem de texto dum/a amigo/a que te escreveu uma coisa tão estúpida e ao mesmo tempo engraçada que já estás a ponto de desatar a rir. “Mas o que faço?”, começas a pensar, “Estou num autocarro cheio de pessoas, rir-me, só sorrir ou deveria deter a riso e aguentar-me continuando com a cara séria e imperturbável?” Uma situação tão absurda que até é difícil escolher uma opção adequada. Mas lembra-te que ela pode marcar a tua vida, até que saias do autocarro;)
Isto quer dizer que estar nos lugares públicos como autocarros, lojas ou centros comerciais  às vezes exige de nós certo comportamento e os dilemas tão complicados acontecem diariamente. A coexistência involuntária nestes lugares provoca que temos que assumir algumas posturas. Mas escolhemos sempre as adequadas? E quais deveriam ser? Se tens dificuldades em responder, tens aqui alguns conselhos preparados por mim. Contudo, cuidado, recorda que não há que levar a sério tudo na vida;)
As dicas úteis em autocarros:
1. Não sorrias para os desconhecidos, nem sequer se te parecessem pessoas simpáticas ou atrativas, até poderias fazer com que alguém também sorrisse e o seu humor melhorasse!
2. Se és uma pessoa mais velha e queres sentar-te mas não há nenhum assento livre, põe-te rapidamente a falar com a outra senhora da tua idade e comentem em voz alta o pouco respeito e a falta de educação que caracterizam os jovens de hoje. Pois criticar em voz alta num lugar público é uma caraterística das pessoas com o nível de educação muito elevado e aquele jovem com certeza agora deixará o assento livre com uma vontade inacreditável.
3. Lembra-te que os assentos nos autocarros são duplos para que as pessoas viagem à vontade com as suas sacolas, malas, casacos etc. Não te esqueças que é preferível colocar estas coisas no assento junto à janela, para que ninguém possa tocá-las ou, Deus nos livre, roubá-las!
4. Se tens problemas com o suor, não deixes que os outros não conheçam o teu problema. Escolhe um dia adequado. 28 graus e um dia de sol serão o tempo ideal. Lembra-te que  a hora também é importante. Às 16 horas, quando há maior tráfego e mais pessoas andam de autocarros, serão as circunstâncias francamente desejadas. Veste uma camiseta sem mangas, ao entrar no autocarro procura o lugar com o maior número de pessoas e agarra a barra ou a pega acima, o que possibilitará a exposição da tua axila. Assim todos saberão o problema que tens. Tens garantidas a compreensão e a compaixão.
5. Quando queres passar para o fundo do autocarro, não incomodes os outros passageiros repetindo “desculpe” sem parar. É suficiente que empurres um pouco e que dês várias cotoveladas aos vizinhos e já saberão que queres passar.
6. Ao ver entrar uma mulher grávida, não lhe proponhas que se sente, seguramente não vai querer, porque vai ter medo de que com o peso que leva vai ser mais difícil para ela levantar-se que estar todo o tempo de pé.
7. Se vês algum ladrão tentando roubar outro passageiro, não detenhas o espetáculo. Assim que a peça termine e o ator principal se retire do palco, não te esqueças de informar a vítima que acabou de ser roubada. Pois assim é mais engraçado e a tragédia converte-se numa comédia! (um exemplo real lido na página “Spotted: MPK Lublin” do Facebook, há uns meses)

Apenas umas mais para os que têm dúvidas quando fazem compras:
1. Quando fazes compras num supermercado ou numa loja de bairro, não digas à vendedora ou à caixa ”bom dia”, “obrigado/a”, “adeus”. Ela já ouviu estas frases tantas vezes esse dia por isso não a chateies mais... Além disso tenta ser mais grosseiro que normalmente, com certeza todos os clientes foram muito simpáticos com ela esse dia, então sê original!
2. Se te desistes de comprar uma coisa, deixa-a num lugar qualquer, em vez de pô-la no seu  lugar,  pois os trabalhadores das lojas e supermercados gostam muito dos jogos de pista. Com certeza faz o mesmo com os produtos que caíram no chão.
3. Em geral, recorda: nunca peças, exige sempre. É o seu trabalho, não é?

            Em resumo, poderia haver mais exemplos, mas acho que com estes já alguma ideia deveria surgir nas vossas cabeças. Se não, não vos vou deixar sem a minha própria opinião que explicará tudo. Em geral ao vir à memória e recordar que com frequência eu mesma fui testemunha das situações parecidas (com exceção do ponto 7.), tanto viajando de autocarro como trabalhando em lojas e tendo o contato constante com os clientes, só me vem à cabeça uma reflexão: onde é que se meteu a empatia das pessoas? Tenho a impressão que a antipatia e o individualismo unido com uma dose de egoísmo começam a cercar e esmagar devagar esse pobre valor. Ou se calhar simplesmente ser amável e prestável passou de moda? Agora frequentemente as pessoas tentem ser muito convencidas, independentes e focadas em si mesmos e assim chegam a esquecer-se que convivemos numa sociedade enorme que depois se divide em grupos mais pequenos, como escola, trabalho, turma, amigos etc, e que não há outra opção que incorporar-nos dalguma maneira. Perdemos a amabilidade e até mesmo quando alguns não a perdem- reagimos de qualquer forma mal. Inclusive, às vezes as mulheres começam a reagir negativamente ao comportamento dos homens que querem mostrar ser “cavalheiros”. Eu pessoalmente não exijo este tipo de conduta da parte dos homens, mas quando me acontece, é para mim algo muito agradável e tento não me esquecer de responder “obrigada”, por exemplo quando um homem me deixa passar primeiro na entrada do autocarro. Há que assinalar que não é algo comum em todos os países. Já ouvi várias vezes que o comportamento dos nossos “cavalheiros” é  normalmente uma das primeiras coisas que surpreendem as espanholas quando vêm à Polónia e que não é algo normal na Espanha. Então não sigamos  o provérbio polaco “valorizam o alheio, não conhecem o seu”, mas apreciemos o que temos e  que alguém (que talvez nem sequer nos conheça) quer ser amável connosco.

Só para concluir, pensemos quantas vezes nos aconteceu ver alguém que ia sozinho pela rua sorrindo de orelha a orelha e pensámos: “Será maluco?”? Eu dantes também pensava da maneira parecida e várias vezes me surpreendi quando vi alguém absorto nos seus pensamentos que sorria olhando cegamente para frente. No entanto afinal supus que era muito estúpido conter-se o sorriso só porque talvez alguém pensasse algo estranho de mim. É melhor alegrar-se de que em geral temos algo de que se alegrar ou que há algo ou alguém cujas lembranças nos provocam este sorriso. E seguindo as palavras de Gabriel García Marquez, que aliás se converteram numa das minhas citações preferidas, “Nunca deixes de sorrir, nem quando estejas triste porque nunca sabes quem pode apaixonar-se pelo teu sorriso”. Assim, sorriam e um pouco mais de amabilidade e empatia, amigos!

Anna Drabik
3º ano de Filologia Ibérica

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