Em busca do amor perdido (2)
À sombra das garotas de
Ipanema
Curitiba
Na realidade, Salvador foi a primeira capital do
Brasil, mas para mim sempre foi Curitiba. Tal como Turim, a primeira capital da
Itália, ou Munique, a capital inicial alemã. Toda esta confusão por causa da
minha paixão pelo futebol. Na década de 90 os meus professores de Geografia
eram os jornais, revistas, programas de rádio e televisão desportivos. Visto
que a Juventus reinava nessa altura na Península Itálica e o Bayern permanecia
a melhor equipa da Alemanha (cujos planos de supremacia tenta hoje em dia frustrar
o magnífico Borussia), as cidades de origem destes clubes eram, de acordo com a minha política
topográfica, as mais importantes dos seus países. Berlim com a sua história de
alguma muro e Roma que abrigava os lobos e o Papamobile não me interessavam tanto.
Não faço ideia se o Atlético Paranaense estava nesse
tempo entre as melhores equipas do país, mas a chegada ao clube do jogador
polaco Mariusz Piekarski fez com que a capital do Paraná fosse proclamada no
meu atlas a capital do Brasil. Um pouco mais tarde as fotos das meninas
vestidas ou não na praia que vi pelo chamado “acaso” (e não a transferência de
Piekarski para o Flamengo) decidiram que o Rio de Janeiro ganhou o título do
espaço mais destacado no mapa da antiga colónia portuguesa e essencial para
todo o hemisfério Sul.
Passaram mais que 15 anos. Desde então as minhas
paixões não mudaram visivelmente, mas muitas circunstâncias curiosas
estabeleceram o Brasil como mais que só “um lugar” numa folha de papel. Um
encorajamento para visitar Curitiba surgiu por parte do indivíduo que uma
vez já foi o protagonista de um artigo neste blogue. O Willian revelou-se
um homem verdadeiro que além de um perfil no Facebook tem uma alma e uma família
e o “evento” a que nos convida factualmente existe. A oferta dele marcou
Curitiba como número dois no roteiro da nossa tournée.
No decorrer da estada de três dias, iniciada pela
imprevista noite passada no aeroporto de Porto Alegre (e dedicada, claro, à
leitura), tivemos o privilégio de dar
uma olhada durante o trajeto do ônibus turístico nos pontos como o Jardim
Botânico, o Museu Oscar Niemeyer ou a Torre Panorâmica com numerosos estímulos
fotográficos.
Em Curitiba encontrei o meu tipo preferido de estabelecimentos comerciais, os
sebos, isto é, livrarias onde se compram e vendem livros, revistas, discos
usados. Um paraíso cujas fronteiras são as limitações da bagagem de avião. No entanto, não recordar Curitiba por causa do turismo.
Os destaques destes dias foram com certeza os jantares com os parentes da Kasia
, o Willian e a sua família
e com a
família do seu amigo Everton ,
todos muito acolhedores, curiosos sobre a Polónia,
pois ligados com o país distante. Foram eles que levaram a que por pouco tempo
nos sentíssemos em casa a 12 mil quilómetros da pátria. Nos guias diz-se muito
sobre os lugares, arquitetura, clima das cidades, mas não se tem em conta as
pessoas com quem se viaja ou quem se visita. Para mim, este constitui o
elemento decisivo para o êxito de cada viagem. Neste caso a variável saiu
favorável. Mas as mesmas pessoas que tinham sido responsáveis por este sucesso,
suprimiram um pouco o nosso entusiasmo, avisando-nos que o Rio de Janeiro, o
nosso destino seguinte, não seria tão hospitaleiro para os turistas da Europa.
Rio de Janeiro
No espaço da minha adolescência a capital do Brasil
mudou. O que não mudou tão drasticamente foi a minha fisionomia. Então, depois
da vinda ao Rio os empregados do serviço de táxi notaram com facilidade que o
homem com quem estavam a falar não parecia um carioca de jeito nenhum. Eles
pressentiram uma oportunidade de fazer o negócio da China e tentaram cobrar pelo
percurso do aeroporto para o centro o dobro da tarifa normal. Neste cenário
negro ajudou-nos o conselho do Willian que já tinha experimentado o “acolhimento”
carioca, avisou-nos da prática e poupamos 50 reais.
O contacto com o centro da metrópole poucas horas
depois dececionou-me. Um montão de gente, ruas sujas e barulho inimaginável
empacotado com o calor insuportável. Felizmente, a primeira impressão não
permaneceu por muito tempo. A Cidade Maravilhosa prometeu-nos muitas outras
atrações, entre elas o monumento do Cristo Redentor ou a vista do Pão de
Açúcar. Não é de estranhar, porém, que na nossa lista de prioridades na primeira
posição figurava sempre o nome nobre da caipirinha. Afinal, somos da Polónia. A
ingestão da especialidade provocou os resultados inesperados, nomeadamente a
participação no desfile de samba acabada prematuramente pela atividade elevada
da bexiga. Estranhamente, a(s) caipirinha(s) afeta(m) obviamente ao mesmo tempo
a competência de contar e o senso de orientação e, por consequência, prolongam
bastante o caminho para a casa.
Esta “aventura” não me impediu de retratar a
beleza natural do Rio e a minha própria.
Apesar de todas as paisagens gostosas, o ponto que me
emocionou mais foi, sem dúvida, a obra de mãos humanas, talvez a mais
importante construção do Brasil neste ano: o Maracanã. A visita ao Rio
coincidiu com a última rodada do campeonato brasileiro de futebol.
Devido a
esse facto, pude assistir ao enfrentamento do Botafogo com o Criciúma. Preferiria estar lá no dia da final da Copa do
Mundo em julho, claro, mas a cavalo dado não se olha o dente. Não só o Rio tem a vantagem de localização pitoresca.
O interesse pela filosofia de um dos mais influentes arquitetos dos nossos
tempos, Oscar Niemeyer, recordado em Curitiba atraiu-me a Niterói, outra cidade
belíssima, situada no outro lado da Baía de Guanabara.
O cruzeiro de barco,
especialmente num dia quente, é uma experiência imensamente agradável. Niterói abriga muitas construções projetadas
por Niemeyer.
Entre elas a mais famosa, semelhante a um OVNI, o Museu de Arte
Contemporânea de Niterói. Nessa época
ainda não tinha consciência de que o nosso último destino comum antes de a
Kasia voltar para a Polónia, São Paulo, se ia tornar a minha casa brasileira espiritual.
Bartosz Suchecki
3º ano de estudos portugueses
NR: Para ler a primeira parte da crónica siga a ligação: Em busca do amor perdido (1)
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