III Congresso dos Estudantes Lusitanistas da Polónia
Nos dias 3 e 4 de abril o Centro de Língua Portuguesa/Camões organizou o 3º Congresso dos Estudantes Lusitanistas da Polónia. O tema desta edição foi: Unidade e Diversidade.
A diretora do Centro, Profa. Dra Barbara Hlibowicka-Węglarz abriu o Congresso dando as boas vindas aos participantes. A sessão de abertura contou também com a presença do Magnífico Reitor da Universidade Marie Curie-Skłodowska, Prof. Dr. Stanisław Michałowski, do presidente da Faculdade de Letras , Prof. Dr. Robert Litwiński e da Diretora do Instituto de Filologia Românica , Prof. Dra. Maria Falska.
A palestra de abertura: Unidade e Diversidade da Língua Portuguesa no Mundo foi proferida pelo Prof. Dr. Paulo Osório da Universidade da Beira Interior. Depois seguiram-se 21 apresentações divididas em cinco sessões temáticas: Linguística, História e Cultura (Brasil), Língua e Cultura (Timor-Leste), Literatura, História e Cultura.
Os estudantes dos maiores centros universitários de ensino do português em Cracóvia, Poznań, Varsóvia, Wrocław e Lublin tiveram mais uma oportunidade de aprofundar os seus conhecimentos relacionados com a língua portuguesa e cultura dos países lusófonos, intercambiar opiniões e consolidar os laços de amizade. Este congresso já se tornou uma referência entre os estudantes polacos de língua portuguesa e prova disso é o número elevado de participantes. As temáticas abordadas foram variadas, suscitando algumas debates mais animados. Houve até quem interrompesse a palestra de abertura, porque isto de ser mais papista que o papa tem destas coisas.
3 de abril
Sessão 1: Linguística
Aleksandra Wilkos (UW,
Varsóvia) Como enfeitar o corvo com penas portuguesas ou polacas? A
comunicação teve como objetivo comparar as expressões idiomáticas portuguesas e
polacas que se remetem ao campo semântico da vaidade. Para cumprir este
objetivo, foi enfatizada a imagem cognitiva das metáforas proposta por George
Lakoff no livro intitulado Metaphors we live by escrito
em colaboração com Mark Johnson.
Grzegorz Kobędza (UJ,
Cracóvia) Influências
da língua francesa no português e no polaco – observações preliminares O
francês influenciou fortemente muitas línguas mais ou menos afastadas em termos
genéticos. O objetivo desta comunicação foi esboçar a conceção de uma
investigação mais vasta que consista numa comparação entre as influências do
idioma francês no português e as suas influências no polaco.
Natalia Trzebuniak,
Patrycja Pawęcka (UMCS,
Lublin) A imagem
linguística do número dois nos provérbios portugueses Em primeiro lugar foi caraterizado
o termo ‘imagem linguística do mundo’ e a simbologia do número dois. Depois
foram apresentados os resultados de um inquérito de conhecimento dos provérbios
com o número dois feito entre estudantes de Portugal (Porto) e da Polónia
(Lublin).
Michał
Belina (UW,
Wrocław) Sobre a essência e origem do idioma mirandês
Esta comunicação teve
como objetivo a apresentação e o informe da breve história da língua mirandesa
em relação à sua situação geográfica, o estatuto e a posição social e as suas
ligações com outras línguas da Península Ibérica, nomeadamente com a língua
portuguesa, espanhola e asturo-leonesa.
Aleksandra
Jańczak
(UAM, Poznań) Persuasão na comunicação publicitária
brasileira. Primeiro foram distinguidos os termos convencer e persuadir. De
acordo com a explicação dada, o segundo entendido como arte de sedução, é
próprio da publicidade. Conforme a teoria da hiperescolha de Gilles Lipovetsky, o consumidor da nossa época opta
pela escolha da máxima satisfação, nem sempre prática ou lógica.
Sessão
2: História e cultura (Brasil)
Kamila
Choroszewska (UW, Varsóvia) As brasileiras e a internet – a blogosfera
feminista no Brasil. O objetivo da presente comunicação foi examinar a blogosfera feminista brasileira.
Analisando os principais blogues feministas como http://blogueirasfeministas.com ou http://blogueirasnegras.org
tentou-se analisar a focalização temática dos artigos publicados nos blogues
escolhidos e abstrair nesta base o programa feminista brasileiro que domina na
internet.
Aleksandra
Krakówka
(UW, Varsóvia) Da diversidade à
singularidade: o Movimento Antropofágico no Brasil. Nesta comunicação foram
apresentados os conceitos-chave da antropofagia cultural, as personagens mais
destacadas deste movimento, como também as repercussões deste conceito na
produção cultural posterior.
Anna
Biesiadecka (UW, Varsóvia) O Rio
de janeiro como reflexo da excecionalidade e da diversidade do mundo lusófono.
O Rio de Janeiro, a cidade mais visitada não só do Brasil mas de todo o
hemisfério sul, é uma mistura incrível de influências europeias, africanas e
indígenas. É uma metrôpole que junta em si a arquitetura dos bairros nobres e
das favelas, a cultura e a paixão por esporte, os traços das religiões
sincrêticas e do catolicismo (incluindo um dos seus símbolos mais conhecidos –
o monumento do Cristo Redentor).
Bartosz
Suchecki (UMCS,
Lublin) Em busca do amor perdido – uma perspetiva subjetiva sobre a brasilidade
. Os brasileiros, no decorrer de cem anos, passaram desde o fim do Império.
Hoje, em 2014, no ano da Copa do Mundo de futebol, a modalidade que eles adoram
, manifestam-se contra a organização da competição. Parece que a paixão pelo
futebol e o carnaval, geralmente aclamados os fundamentos da brasilidade, não
chega para se reconciliarem com o quotidiano, bastante desanimador para muitos
deles. Após visitar o Brasil e ler Proust, atrevo-me a dizer que o que os
brasileiros procuram no seu dia a dia pode ser o amor: amor de si mesmos e de
outros.
Paulina
Zajglic (UW,
Varsóvia)Um presidente bossa nova e sua
Brasília. Todos os brasileiros concordam com a opinião que Juscelino
Kubitschek foi mais que um presidente. A velocidade com que transitava pelo
país a bordo de automóveis e aviões, a descontração em frente das câmaras da
TV, a agilidade nas pistas de dança, pareciam demonstrar que Juscelino
Kubitschek foi o “homem no lugar certo, na hora certa”. Conhecido como JK,
Juscelino Kubitschek de Oliveira foi o 21º presidente do Brasil e a principal
figura responsável pela construção de Brasília.
Sessão
3: Língua e Cultura (Timor-Leste)
Edyta
Rakowska (UW,
Wrocław) A Língua Portuguesa em Timor-Leste. O objetivo desta comunicação foi apresentar a situação da Língua
Portuguesa em Timor-Leste. Começando com a breve história da ex-colónia
portuguesa, para depois falar sobre a situação linguística do país. Foram
analisados alguns aspetos do português timorense e apresentada a política atual
do Instituto Camões em Timor-Leste.
Małgorzata
Koprowicz, Olga Kukawka, Paulina Szczygielska (UMCS, Lublin) O território e a nação na obra de Xanana
Gusmão na reconstrução de Timor-Leste. A história da antiga colónia
portuguesa está marcada pelas tentativas sangrentas para atingir a
independência. Esta apresentação concentrou-se na personagem de Xanana Gusmão,
primeiro-ministro timorense que para além de ser político é pintor e poeta,
empenhado na reconstrução do país não só como um ativista pela independência
mas também através da pintura e da poesia.
4
de abril
Sessão
1: Literatura
Joanna
Filipkowska (UW, Varsóvia) O baiano como a essência da brasilidade. O
caso dos subversivos “Capitães da Areia” de Jorge Amado. Esta comunicação concentrou-se no famoso livro Capitães da Areia. Primeiro, observado a
imagem dos baianos que surge do romance e examinando a relação dessa imagem com
a realidade de então e de hoje. Depois a sua recepção e a perseguição pelo
Estado Novo. Foi também analisada a visão da sociedade presente no romance.
Zuzanna
Musiał (UAM, Poznań) O
motivo do espelho na obra de José Saramago – a escrita é o espelho da alma do
autor? No romance O Homem Duplicado
mostra uma visão da existência e pessoas duplicadas, que são os seus reflexos.
O motivo do espelho está presente não só no mencionado livro, mas aparece
também noutros títulos de José Saramago. Esta comunicação tentou responder às
seguintes questões: será que a obsessão da originalidade e excepcionalidade é o
domínio do autor? Ou se calhar é uma boa diagnose do problema da sociedade
contemporânea?
Anna
Maria Bielak (UAM, Poznań) A abjeção no naturalismo brasileiro na obra “O Cortiço” de Aluízio de
Azeved.o Pretendeu-se com esta comunicação pensar na obra de Aluízio de
Azevedo O Cortiço no campo teorético
da abjeção, nomeadamente segundo a definição proposta por Julia Kristeva.
Observam-se algumas particularidades que distinguem o naturalismo brasileiro do
naturalismo no fundo continental e que se podem encerrar na noção de “sol
brasileiro”. Assim, considerando o impacto do contexto exterior (não
continental), procurou-se expor estas diferenças dentro da corrente
naturalista.
Magda
Balińska (UAM,
Poznań) Porque os
escritores criam os personagens ideais? Análise dos dois personagens principais
nas obras “A Escrava Isaura” de Guimarães e “O Idiota” de Dostoiévski Nesta comunicação procurou-se
apresentar uma ideia do personagem ideal. Estes dois livros compartilham elementos
comuns (por exemplo, a ideia de criar as pessoas ideais como os protagonistas),
bem como elementos completamente diferentes (por
exemplo, porque Guimarães e Dostoiévski apresentam os personagens ideais,
épocas literárias diferentes, etc).
Sessão
2: História e Cultura
Magdalena
Góralska (UW,
Wrocław) Avaliação ambivalente do rei Dom Sebastião: um herói nacional ou um
monarca louco? O objetivo da
comunicação foi confrontar a maneira de apresentar o rei Dom Sebastião I de
Portugal nas fontes históricas com a sua imagem idealizada disseminada pelo
mito do sebastianismo. As opiniões dos historiadores sobre a história da vida e
morte deste monarca são extremamente diferentes, mas em geral não há dúvida de
que a impressão dada pela lenda tem pouco a ver com a realidade.
Anna
Tylec, Katarzyna Janowska (UMCS, Lublin) Património mundial de origem portuguesa. Há cerca de 500 anos
atrás os portugueses começaram a sua expansão marítima. Marcaram a sua presença
no mundo inteiro, também em lugares que não parecem tão evidentes. Nesta
apresentação foram mostrados os vestígios que testemunham a diáspora dos
portugueses pelo mundo.
Paulina
Grabowska (UW,
Varsóvia) O musical no cinema português
Esta comunicação mostrou o processo da introdução do som na imagem fílmica.
Sublinhou a importância do período mudo para a sonorização do cinema, e
descreveu os meios usados para isso, tanto no cinema mudo como já no cinema
falado. Comentou a relação entre o som e a imagem na obra fílmica e sublinhou o
papel, que a música desempenhou no filme, apontando a utilização dela no filme musical,
o qual define. Descreveu a história da cinematografia portuguesa,
focalizando-se neste género totalmente americano, que é o musical.
Agata
Błoch (UW,
Varsóvia) A criação da identidade crioula nas ilhas de Cabo Verde O objetivo desta apresentação foi
mostrar como surgiu a identidade dos moradores das ilhas de Cabo Verde ao longo
de vários séculos entre o século XV e o XVIII. O ponto de partida foi mostrar
como a população de Cabo Verde, que era etnicamente e culturalmente diversa,
caracterizada por alguns elementos como: a elite portuguesa e a escravidão, e
também a população multiétnica de africanos recém-chegados se tornou a sociedade mais unida e integrada
de todos os países lusófonos. O resultado deste processo é a emergência da
identidade crioula e da língua Badio e Sampadjudo.
Agata
Pankow (UW,
Wrocław) A
influência portuguesa no Japão no período Nanban. A ideia principal desta comunicação foi
apresentar a importância da presença portuguesa nas terras japonesas nos
séculos XVI-XVII e o impacto que produziu nas diferentes esferas da vida como
arte, religião, tecnologia e comércio. A chegada
dos portugueses provocou muitas mudanças na vida e mentalidade japonesa, cujos
indícios são por exemplo a arte Nanban, o aparecimento e produção das armas de
fogo, o cristianismo e até o emprego e difusão dos lusismos na língua japonesa.
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