Em busca do amor perdido (1)


No caminho de Tieta
Porto Alegre
Há quase dois anos saí da Polónia para passar um semestre de estudos em Portugal. O voo para Lisboa marcou na minha vida um momento em que a atitude com que eu abordava a língua mudou. Foi como se o português fosse um monumento que de repente ganhasse vida. Conheci alguns portugueses, provei alguns pratos típicos, visitei alguns lugares históricos e ainda queria mais. Essa cobiça, esquecendo por um instante a própria língua, conduziu-me no ano seguinte ao Brasil. O Erasmus no extremo ocidental da Europa não deixou muito a desejar. Só lamentei não ter viajado mais. Em Portugal, um país pequeninho em comparação com o Brasil faltou-me a vontade. Por isso, desta vez, apesar de distâncias muito mais longas, decidi e consegui ver mais. Não amansou a fome. Já sei que tenho de voltar lá. Posso enumerar dezenas de sítios no Brasil que gostaria de explorar um dia. 
Porto Alegre, a minha primeira localidade na Terra Brasilis, não faz parte desta categoria. Eu acredito que é um lugar ótimo e que tem muito a oferecer, mas vou lembrá-la como a cidade das greves, taxistas-vigaristas, pousadas barulhentas, noites no aeroporto, estações apinhadas de gente e prostitutas (pela ordem de mais a menos irritantes). Talvez seja uma visão injusta, mas, infelizmente, esta é uma impressão subjetiva que não me deixou até ao fim. A única coisa de valor sentimental que troxe da capital gaúcha foi um disco de vinil com a banda sonora da série Tieta comprado por 2 reais. Larguei ali muito mais, sobretudo dinheiro e os nervos.

Sul (Ijuí e arredores, Passo Fundo e Florianópolis)
Chegada a Ijuí, uma cidade de 80 mil habitantes, não me pôde surpreender. Eu sabia antes o que esperar. Apesar disso, o choque com a nova realidade foi doloroso. Levou-me muito tempo acostumar-me à sesta do meio-dia, mas o problema mais perturbador foi, sem dúvida, o frio. As temperaturas por volta dos zero graus de noite esfriavam bastante a casa privada de aquecimento. Portanto, os meses de julho e agosto foram a prova verdadeira do sistema imunitário. A constipação mantinha-se um estado perene do meu organismo. Podia, claro, usar os produtos polacos, como vodka Sobieski promovida no Brasil pelo ator americano Bruce Willis, para esquentar-me, mas queria adaptar-me à realidade brasileira e o meu pensamento concentrava-se na cachaça. 


Em Ijuí não encontrei atrações turísticas típicas. Na verdade, toda a Região das Missões e os arredores não oferecem muito para turistas preguiçosos. Para apreciar os valores da área é preciso mergulhar na história da colonização. Ijuí, por exemplo, é uma terra de pelo menos 11 etnias que cultivam a tradição dos seus ancestrais e exibem-na todos os anos na feira Expo Ijuí Fenadi. Com o propósito de avaliar melhor a região, eu e a minha corajosa parceira Kasia aproveitámos a hospitalidade das pessoas ligadas de qualquer jeito com a Polónia. A Marli, a Irene e o Claudio da etnia polaca apresentaram-nos a vida da comunidade. Com a professora Marli, por exemplo, ensinámos às crianças na escola IMEAB um pouco da cultura e língua polaca.



Os intercambistas: o Diovan (que esteve em Lublin no ano passado) e o Pietro (que agora mesmo acaba a sua estada na Polónia)[1] possibilitaram-nos conhecer não só as cidades onde eles moram (respetivamente: Santo Augusto e Santa Rosa), mas também as famílias e os amigos deles.


Durante a minha curta permanência em Tenente Portela com o Diovan tornou-se claro que os vestígios polacos não se limitam a Ijuí.



Por outro lado, a professora Natalia Klidzio, que passou as férias no Brasil, mostrou-nos a cidade de Santo Ângelo (um dos Sete Povos das Missões) e familiarizou-nos com a cultura gaúcha, especificamente com a sua parte musical no Festival do Canto Missioneiro.


No fim de agosto, fomos por iniciativa dela a Passo Fundo, onde assistimos à palestra da Professora Doutora Barbara Hlibowicka proferida na 15ª Jornada Nacional de Literatura.


Além desses eventos, o quotidiano revelou-se mais agradável do que os começos sugeriram. A experiência universitária foi frutífera. Aprimorei as minhas competências linguísticas escrevendo nas aulas dos professores Lisandra e Márcio textos jornalísticos e participei na criação e manutenção do projeto Redação K1 com o professor Felipe.

Em casa os problemas não faltavam, mas consegui resolver os mais importantes .

A melhora do tempo fortaleceu a nossa vontade de verificar outro lado do Brasil, este do cartão-postal. Por conseguinte, em meados de novembro aproveitámos o dia da Proclamação da República, fizemos ponte e visitámos a capital do estado vizinho – Florianópolis em Santa Catarina. A viagem de ônibus (autocarro) foi longa (15 horas a de ida e 12 a de volta) e cansativa, mas gratificante. As praias e as paisagens bonitas recompensaram a fadiga.

Devido à recomendação da autoridade encontrada numa das ruas da ilha, a primeira viagem não continuou como única por muito tempo.

(continua)...

Bartosz Suchecki
3º ano de Estudos Portugueses


[1] Esta crónica foi escrita em janeiro 

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