O bacalhau

Esta história teve lugar no dia 27 de fevereiro de 2015. Eu levantei-me como sempre duas horas após o despertador ter tocado pela primeira vez. Tirei as ramelas dos olhos, vesti-me e preparei o pequeno-almoço. Naquele momento não sabia o que ia acontecer. Ao tomar o pequeno-almoço ja pensava no almoço e em fazer as compras no Biedronka – o equivalente do Pingo Doce na Polónia. Fiz uma lista de compras numa folha de papel e sai de casa levando a mochila. Sai para a rua, o sol brilhava como se fosse verão. Passando pelo bairro, encontrei muitas pessoas incluindo as que não apanharam o cocó do seu cão porque não “viram”. Atravessei a rua mas desta vez sem ser quase atropelado e uns metros depois entrei no Biedronka. Como sempre havia muitas pessoas a gritar, correr, rezar ou fazer centenas de outras coisas. Tirando a lista de compras do meu bolso dirigi-me para o interior do supermercado. Número um na minha lista: tomates – está feito, dois: farinha – já está no meu cesto, açúcar também. Cheguei ao ponto vinte e tal e li: bacalhau. Dirigi-me à secção dos produtos congelados olhando para cada congelador. Num momento notei um brilho como se fosse uma auréola num congelador. Aproximei-me e pela primeira vez vi uma coisa tão bonita como esta. Um bacalhau congelado, tão branco, tão bonito que até era ridículo. Tirei-o do congelador e de repente senti um puxão no braço. Virei-me e vi uma mulher velha de setenta e tal anos, gorda, baixa e com o prazer do crime nos olhos.
- Isto é o meu bacalhau!
Gritou, cuspindo na minha cara.
- Nunca!
Respondi e abraçando a pacote e entrei na zona das caixas registadoras. Esta terrível velhota seguia-me o tempo todo chamando-me o diabo e molhando-me com a água benta. Mas eu não desisti, cheguei às caixas, paguei e sai do Biedronka. Quando voltava para a casa, tinha um estúpido pressentimento que alguém me seguia, mas graças a Deus cheguei à casa e fechei a porta. Preparei o bacalhau com natas, que estava mesmo muito bom, os pássaros piavam, todos estavam contentes. Menos eu, porque até hoje tenho medo de sair de casa e visitar o Biedronka. Sempre que vejo uma velhota baixa e gorda que é parecida com esta, passo para o outro lado da rua. A moral é muito simples: Nunca desistam, lutem pelo vosso bacalhau.
Łukasz Gomoła
1º ano de mestrado em Estudos Portugueses

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