Mais um dia de vida...
Nas últimas aulas de História dos Países
Luso-africanos, uma semana antes do exame, o professor recomendou-nos a leitura do livro de Ryszard Kapuściński sobre a viagem que este escritor polaco fez a
Angola, intitulado Jeszcze jeden dzień
życia ( Mais um dia de vida).
Isto despertou a minha curiosidade. Um escritor polaco em Angola? O que o levou
até lá? Costumamos queixar-nos de não termos tempo suficiente para ler então
finalmente pude "juntar o útil ao agradável" como se diz muitas vezes
aqui na Polónia. Os primeiros livros de Ryszard Kapuściński publicados
nos anos 60 do século XX foram principalmente um conjunto das reportagens e
apontamentos que o escritor fez enquanto
correspondente na África e América Latina. Descrevia a história da
descolonização do Continente Negro, a viagem pelas repúblicas da União
Soviética ou vários movimentos de guerrilha.
Em 1976 foi publicado o livro Jeszcze jeden dzień życia. O autor escreveu-o baseado na sua
estadia em Angola nos anos 1974-1975. Naquela época este país, que foi uma das
últimas colónias em África, lutava pela sua independência e, ao mesmo tempo,
fazia face à guerra civil. Kapuściński descreveu tudo o que viu, criando
uma narração compacta, que na estrutura era totalmente diferente das suas
publicações anteriores. Desistiu também
de apresentar apenas os factos e números, concentrando-se nas suas observações,
reflexões e experiências. Como o mesmo autor disse Jeszcze jeden dzień życia foi na verdade o seu primeiro livro.
Kapuściński escreve sobre o inicio da guerra civil
entre as forças comunistas do partido MPLA (Movimento Popular de Libertação de
Angola) e os partidos rivais apoiados pelos Estados Unidos e África do
Sul, a UNITA (União Nacional para a Independência Total de Angola) e a FNLA
(Frente Nacional de Libertação de Angola). Observamos a capital do país,
Luanda, da qual fogem todos os brancos. Em torno dela há cada vez mais tropas.
Depois chegamos à linha da frente, variável e irregular, onde os combatentes do
MPLA retêm com muitas dificuldades os ataques dos seus adversários.
Junto com o autor conhecemos Cartagina e os habitantes
do hotel "Tivoli" na Luanda sitiada pelo exército, Carlotta -
mulher-soldado valente que comanda um destacamento na linha da frente e os
misteriosos cubanos que realizam em Angola uma missão especial. Vemos também um bosque de caixas de madeira.
De todos os correspondentes que estavam em Angola só Kapuściński reparou nisso.
O que é que era este bosque? Podemos ficar a saber por se lermos o livro...
Como já mencionei o autor concentrou-se na expressão
das suas reflexões e sentimentos. Por isso no livro o ambiente desempenha o
papel principal destes acontecimentos - o abatimento e o medo. Angola parece
estar à beira duma derrota espantosa. Portanto as palavras contidas no título
têm o caráter universal: Ó, um dia mais
de vida tenho detrás, espera-me um dia mais. Mas não mais.
Vale a pena ler este livro porque por um lado é uma
fonte de informação sobre um dos conflitos africanos, sangrento e cruel. É um
relato que apresenta os factos mas também o ambiente destes acontecimentos,
descrito por um observador perspicaz e conhecedor do mundo (historiador de
profissão). Por outro lado é um exemplar importante para os apreciadores da
criação deste repórter polaco porque forma o prelúdio do surgimento das suas
maiores obras-primas que o tornaram conhecido no mundo inteiro.
Ewa Tomaszewska
3º ano de Estudos Portugueses
Fonte da imagem: http://diariodigital.sapo.pt/images_content/2013/201310291343_angola.jpg
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