E porque não rir-se dos portugueses?

Qual é a diferença entre um casamento polaco e um funeral polaco? Num funeral há sempre um bêbado menos. O sentido de humor é uma das características mais apreciadas no mundo de hoje. Segundo os psicólogos rimo-nos especialmente das anedotas nas quais os outros são satirizados. Inventamo-las e repetimos facilmente porque nos ajudam a curar os nossos complexos. Estas anedotas estereotípicas formam uma verdadeira sabedoria sobre outras nacionalidades. 
 Os russos são a principal vitima das piadas dos japoneses, ao mesmo tempo que se riem dos americanos. Os alemães riem-se dos polacos e dizem que somos capazes de roubar tudo. Segundo as „polish jokes” nos Estados Unidos também somos capazes de beber tudo. Nós brincamos com o atraso civilizador dos romenos e eles e os eslovacos divertem-se com piadas sobre os húngaros. Ademais cada alemão vai ser sempre um secreto nazi. Cada italiano ama a sua mãe e vai viver com ela até aos 40 anos; inventou a sesta para poder não fazer nada durante mais tempo. Um francês é sempre um cobarde ofendido com todo o mundo... É uma rede que não se pode ordenar de modo nenhum. Porém, nalguma parte há piadas sobre os portugueses, nas quais a maior parte tem origem no Brasil e na África lusófona. 
  Brasil: Para os brasileiros contar piadas sobre o português é quase um desporto nacional, eles adoram. As anedotas sobre esta personagem circulam na internet, nos jornais e ainda nos programas de televisão. Porquê? Se ambos tem a mesma origem... por que os portugueses do Brasil, os que já estavam instalados ali, passaram a rir-se dos que chegavam? A causa é a seguinte: Depois da Independência do Brasil (1822) em meados do século XIX começa a grande vaga da emigração portuguesa para o Brasil. Grande parte deles empregou-se, substituindo os escravos, nas plantações de cana-de-açúcar, café e algodão. Este foi um acontecimento muito vergonhoso. Descrevia uma enorme diferença entre o estatuto social destes novos imigrantes e a comunidade portuguesa há muito tempo instalada no Brasil que constituía a elite brasileira. Agora esta elite quer anular as marcas da sua identidade portuguesa para distinguir-se deste povo. Desta maneira os emigrantes portugueses no Brasil passaram a ser retratados, através de anedotas e piadas, como estúpidos. Não possuem inteligência nenhuma ou quando a têm, sempre é inferior à de um macaco, como podemos ver num exemplo: 
 Todos estavam prestes a apedrejar Maria Madalena, quando Jesus disse: - "Quem nunca errou que atire a primeira pedra!" Um português juntou rapidamente do chão o maior pedregulho que achou e atirou, acertando em Maria Madalena. Jesus aproximou-se dele e perguntou: - "Você nunca errou?" O português respondeu: - "Dessa distância eu nunca errei senhor! Outra característica muito presente é a nostalgia portuguesa. Todos conhecemos Camões e a sua saudade, uma das palavras mais populares na poesia e música portuguesa. Palavra, segundo a lenda, surgida na época dos Descobrimentos no Brasil colónia. Nesta época esteve muito presente para definir a solidão dos portugueses numa terra estranha. É uma melancolia causada pela lembrança e ausência de Portugal. Até hoje no Brasil o estereótipo do português melancólico e sempre contemplativo forma a base do humor brasileiro: Qual é a diferença entre um computador brasileiro e um computador português? O computador brasileiro tem memória; o português tem uma "vaga lembrança". Estas anedotas são apenas exemplos mas existem muito mais. Porém, na realidade os brasileiros quando estão a rir-se do português estão a rir-se de si mesmos. 
  Recém che­gado ao Brasil, está Pedro Álvares Ca­bral a en­tregar um con­trato aos na­tu­rais do Novo Mundo. Então o índio bra­si­leiro per­gunta: - Ó Ca­bral, que está es­crito neste con­trato? Ca­bral res­ponde: - Que nós por­tu­gueses po­demos levar o ouro todo, a prata toda, e o pau-brasil que qui­sermos. Diz o índio: - E nós bra­si­leiros o que ga­nhamos? Res­ponde Ca­bral: - O di­reito de con­tarem ane­dotas sobre por­tu­gueses es­tú­pidos nos pró­ximos qui­nhentos anos.     
  África: Moçambique, Angola, Guiné Bissau, São Tomé e Princípe e Cabo Verde até 1975 viveram sob a tutela do cruel colonialismo português que tal como as demais potências europeias procurava apoderar-se das riquezas e não respeitava a lei nenhuma. Isto levou a que os portugueses agora sejam vistos como pessoas cruéis e, como sempre, com a inteligência de um macaco. Ali, as piadas deles são tão comuns como no Brasil, e não só entre o povo. Em Moçambique por exemplo a gente educada (jornalistas ou professores) sem escrúpulos dizem que os portugueses são “burros” e “porcos”. Também em Angola e na Guiné-Bissau os portugueses brancos eram as primeiras vítimas de racismo. Expulsos das terras onde nasceram simplesmente por causa da sua cor de pele, sempre culpados da colonização: "Um caçador português, vindo de uma caçada, para em Angola para tomar café e o empregado pergunta-lhe: - Que tipo de animais o senhor caçou? - Girafas, elefantes, rinocerontes e muitos aminões. - Aminões? - Sim, são uns animais pretos, que quando eu lhes apontava a arma, gritavam: "A MIM NÃO","A MIM NÃO","A MIM NÃO".
  Na realidade as anedotas e piadas estereotípicas pouco dizem sobre estes dos quais se riem, mais sobre os que se estão a rir. Então qual é o seu objetivo? Porque nos rimos dos outros? Não tenho resposta. Porém, tenho outra pergunta: e porque não? Para quê resignar de um bom motivo para rirmos? 
Sylwia Moździerzewska

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