O diálogo com a tradição de Ana Luísa Amaral em A Génese do Amor
Ana Luísa Amaral no seu décimo livro
intitulado A Génese do Amor [1] tenta descodificar o essencial do amor humano. A escritora repensa de forma
intertextual o cânone amoroso estético da cultura ocidental e desde a
perspetiva feminina apresenta a visão panorâmica da questão por ela tratada.
O
livro de poemas de Ana Luísa Amaral destaca-se pela mostra de diversas
referências literárias (os textos de Camões, Dante e Petrarca servem de modelo
a seguir e de ponto de apoio) e pela única organização dos poemas. Verifica-se
que o primeiro e o último poema do livro apresentam uma visão geral da autora
e, ao mesmo tempo, constituem uma chave de leitura de toda a obra, um guia. A poesia
de Amaral, exprime-se por meio de sinais exteriores (coisas, palavras) e por
eles é recriado o essencial (o que é visível da melhor maneira em dois poemas: Topografias em quase dicionário e A Génese do Amor). A escritora cruza os
olhares e os pensamentos na encenação dialógica de poemas. A voz têm não só os
clássicos que cantam a beleza, mas também as suas musas inspiradoras (antes
silenciosas).
Avançando na leitura,
chega-se à conclusão que o amor humano é inexpressível, mas é por meio de
palavras e a reinvenção da língua, que a própria autora quer tornar o amor num
valor infinito. A desconstrução de poemas resulta em revelar o absurdo que
deriva da sobreposição de planos e dos olhares apresentados nos poemas. Tudo
isto serve para confirmar que apesar de toda a topografia exposta (é isso, mas
pode ser tudo outro) não há uma resposta para a pergunta onde é que nasce o
amor. A poesia de Ana Luísa Amaral tenta exprimir algo que na sua origem não
tem palavras.
Desde o ponto de vista
crítico vale a pena sublinhar que os poemas tratam do assunto já elaborado por
muitos e bons poetas. Mas não se deve esquecer que, contudo, a escrita de
Amaral desperta muitas emoções estéticas, e, além disso, apresenta um olhar
novo para a tradição nacional.
[1] AMARAL, Ana Luísa (2005) A Génese do Amor. Porto, Campo das Letras.
Agata Pietroń
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