TERRA DAS CULTURAS DIVERSIFICADAS I


  Minha aventura no Brasil começou em 22 de julho de 2011, quando pela primeira vez desembarquei em solo brasileiro, no aeroporto de São Paulo, de onde peguei um vôo para Porto Alegre, a capital do Estado do Rio Grande do Sul. Lá, embarquei em um ônibus e após uma viagem de oito horas, cheguei a Ijuí, uma cidade situada no noroeste do Estado. O desejo de visitar este país tão diferente para nós estava latente dentro de mim desde sempre. Portanto a decisão de seguir meus sonhos foi rápida. Sempre sabia que viria, agora já estou aqui.
    Como mencionei, eu vim para o Brasil em julho, exatamente no meio do inverno que atinge o sul do Brasil. Claro, não é um inverno tão rigoroso como o nosso polonês, aqui durante esta estação pode-se colher laranjas. A única desvantagem é que nem as casas, e nem as universidades brasileiras possuem aquecimento. Portanto, o inverno no sul do Brasil se sente muito mais do que na Polônia. Felizmente, durante esses períodos frios, aparecem também dias muito ensolarados, caso contrário ele seria insuportável. Isso é algo inacreditável, mas acreditem ou não, um dia eu, vestia um casaco grosso, e no dia seguinte estava muito quente, o sol brilhava e o clima estava perfeito para manga curta. No passado a região do Rio Grande do Sul teve as estações bem definidas. Hoje os dias frios se alteram com dias muito ensolarados. Essa região, localizada no sul do Brasil, sua cultura, tradições e sabores regionais, muito fortes, em especial a cidade de Ijuí e seus arredores, pretendo, aproximar vocês caros leitores dessa realidade. Espero poder cumprir com o desafio.
    Na língua Guarani, Ijuí significa “Rio das Águas Claras” ou “Rio das Águas Divinas”. Como sabemos, os povos indígenas foram os primeiros habitantes da região. Depois de milhares de anos, se juntaram a eles os imigrantes afro-brasileiros, luso-brasileiros e os descendentes de imigrantes europeus. É assim que começou uma grande mistura de etnias, que caracteriza Ijuí como “Terra das Culturas Diversificadas”. Ijuí foi fundada no final do século XIX. É uma cidade com a aparência típica das cidades sul-americanas. Sua história breve, a arquitetura pouco artística e mistura cultural não assemelham Ijuí às cidades europeias contemporâneas. Além de “Terra das Culturas Diversificadas”, Ijuí pode se orgulhar também dos títulos “Cidade Universitária”, “Colméia do Trabalho” ou “Terra das Fontes de Água Mineral”. A cidade é uma mistura de muitas nacionalidades. É habitada por descendentes de imigrantes portugueses, alemães, italianos e poloneses. Não é difícil, encontrar também os descendentes de imigrantes árabes, holandeses, austríacos, japoneses, espanhóis, africanos ou suecos, mas é claro, em menor número. Estes grupos étnicos estão hoje bastante integrados e organizam anualmente a FENADI – Festa Nacional das Culturas Diversificadas.
    Esse evento acontece no “Parque de Exposições” de 7 a 19 de outubro. Durante estes 12 dias, os 12 grupos étnicos têm a oportunidade de mostrar a cultura e as tradições de seus antepassados. O mais interessante é que cada grupo possui sua própria casa. No “Parque de Exposições” situam-se 12 casas chamadas “Casas Étnicas” e em cada uma delas pode-se ver um fragmento da cultura, que é mais característico para elas, que faz parte do seu país de origem de seus antepassados. E assim, por exemplo, na casa italiana pode-se provar o maravilhoso gnocchi, na espanhola pode-se paella, e na alemã degustar uma cerveja tradicional. E tudo isso com o acompanhamento de música típica de cada país. Na casa polonesa são servidos, claro, as nossas empanadas tradicionais. Os visitantes também encontrarão uma surpresa atraente. Cada convidado recebe um “passaporte turístico” em que se carimba a visita numa casa. A pessoa que consegue coletar todos os 12 selos, tem a chance de participar dum concurso, cujo prêmio principal é uma viagem para um dos 12 países propostos. O que me surpreendeu nessas pessoas, é uma enorme fascinação pelo país de seus antepassados. Fiquei muito agradavelmente surpreendida porque tive a oportunidade de trocar algumas palavras em polonês. Embora o idioma polonês possa ser ouvido hoje aqui apenas por pessoas mais velhas, falando um pouco polonês arcaico, as novas gerações enfatizam sua origem, através dos grupos folclóricos, dos quais em Ijuí tem dois. Os jovens estão interessados em aprender danças polonesas, que são apresentadas, entre outros, durante a FENADI. Gostaria de acrescentar apenas que, sob a presidência de G. Vargas (1930-1945), através de seus decretos (1938), com a ideia de nacionalização da nação, foi proibido o uso de línguas locais. O presidente Vargas aboliu todas as escolas étnicas, incluindo as polonesas, o que dificultou muito a transmissão de tradições e língua polonesa às gerações mais jovens. 
    Durante a FENADI fiquei mesmo impressionada com a grande dedicação na preparação da festa e a paixão pela terra de seus ancestrais que contaminam também estes mais jovens. Durante estes dias não só tive a oportunidade de visitar a casa ;), mas também por ocasião visitar toda Europa. Foi uma verdadeira viagem culinária, durante a qual conheci os sabores de quase todos os cantos da Europa, bem como da Ásia ou África. Esta é a minha primeira viagem ao Brasil, mas eu não sinto que é um país estrangeiro para mim, pelo contrário, me sinto como em casa. Em grande parte é graças à comunidade local polonesa, uma das maiores na América do Sul. Não quero dizer que o Brasil seja igual à Polônia, porque o Brasil é um país totalmente diferente.
Sylwia Michta

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