O Silêncio

Foi pedido aos estudantes do 2º ano de Filologia Ibérica que, depois de lerem o conto "O Silêncio", escrevessem a continuação da história, um novo final. O texto integral do conto de Sophia de Mello Breyner Andresen pode ser lido aqui: "O Silêncio"
Dentre os trabalhos do alunos foram escolhidos os melhores e hoje é publicado o primeiro:


Depois deste acontecimento, Joana não podia encontrar nenhum lugar em casa para poder tranquilizar-se. O sentido da alienação era tão grande que se sentiu como uma pessoa que tinha perdido tudo o que amava. O tempo passava lentamente, cada pancada do relógio provocava na sua alma um ataque de receio, pânico. As coisas que antes causavam felicidade agora contribuem para uma explosão de ira e de irritação. Joana não podia encontrar uma resposta lógica para o seu comportamento.  Quase todos os dias era uma muda testemunha de situações semelhantes. Mas o grito desta mulher era diferente. Era cheio de dor profunda, uma dor tão profunda que invadia o coração, provocava o temor de cada célula do corpo. Joana tinha impressão que o seu coração saltará do seu peito. Sentou-se na sua poltrona preferida e tentou regularizar a respiração. O ar era pesado e quente. Não notou quando as lágrimas começaram a fluir pelas suas bochechas. O grito desta mulher desconhecida gravou-se não só na sua memória, mas também na sua alma tão fortemente que não podia deixar de pensar nesta coitada. Com o passar do tempo a mulher sentia-se cada vez mais cansada. De repente caiu nos braços de Morfeu. A noite foi longa e exaustiva. Joana teve um pesadelo relacionado com o acontecimento da noite finda.   Entendia exatamente o que sentia este mulher porque há três anos o seu namorado foi preso pela PIDE. Era um homem lindo, bem educado, também era um patriota que amava a sua pátria. Por causa do seu conceito do país expôs-se à  cólera do governo. A Joana era muito importante para ele mas não podia ver a situação do seu povo e decidiu participar numa rebelião na Marinha. O seu amor ao país e ao povo causou o exílio no campo da morte lenta na Ilha de Santiago. Joana tentava esquecer este acontecimento mas o pensamento que o seu namorado sofreu suplícios na solidão sem nenhuma pessoa que pudesse aliviar o padecimento, provocava nela uma grande dor. Vivia com o sentimento de uma enorme perda no seu coração. Quando Joana mais ou menos deu cabo das demónios  do passado o acontecimento na rua despertou as memórias dolorosas. A manhã não era fácil, não tinha vontade de levantar-se da cama. Queria passar todo o dia na cama mas sabia que tinha de dar o pequeno-almoço ao seu gatinho. De repente ouviu um grande alarido. Aproximou-se com  receio da janela e viu um grupo de homens. Entre eles reparou numa cara conhecida. O passar do tempo deixou uma marca visível  mas os olhos eram os mesmos, alegres e brilhantes. Era a cara do seu namorado, do seu querido Pedro. A tigela que segurava nas suas mãos caiu no chão e quebrou-se num sem número de  pedaços pequenos. Joana não podia acreditar que o seu Pedro estava vivo. Começou a correr para baixo mas no meio do caminho escorregou , caiu da escada e perdeu os sentidos e por isso deixou fugir a possibilidade do encontro e da conversa com o homem que lhe parecia o seu namorado. Quando recuperou os sentidos estava no hospital. Não sabia como foi parar a este lugar mas lembrava-se que antes do seu acidente tinha visto o Pedro. Sentiu uma grande desilusão e uma irrefutável vontade de chorar. Passou uns dias no hospital sem nenhuma esperança de ver o homem outra vez. No último dia da sua estada no hospital quando se preparava para a saída viu o Pedro de farda falando com a rececionista. Aproximou-se do homem e de repente deu conta de que o homem é só parecido ao Pedro. Começou a chorar tanto que o soldado assustou-se que algo tinha acontecido a este pobre mulher. Começou a consolá-la mas ela não deixava de chorar. Depois de um tempo tranquilizou-se e olhou para olhos dele. Compreendeu que embora o soldado não fosse o seu Pedro passará com ele resto da sua vida.
Liliana Wajrak
2º ano de Filologia Ibérica

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