Em busca do amor perdido (3)

O amor reencontrado 


São Paulo
São Paulo é uma cidade enorme, imponente, a maior na América do Sul com quase 12 milhões de habitantes. É com muitos arranha-céus a mais alta no país. O panorama de construções sem fim pode-se observar do chamado Terraço Itália que funciona no 41° andar do segundo maior edifício da cidade.



Para mim atingiu uma proeminência especial no mapa do Brasil por várias razões. É a minha capital mais recente e provavelmente definitiva do país – a capital da cultura. Neste sentido, encontrei lá tudo para satisfazer o meu apetite. Mas apesar dos shows, museus (da Língua portuguesa, do Futebol, de Arte Contemporânea, de Arte de São Paulo, entre outros), cinemas, livrarias enormes, foram de novo as pessoas que me deixaram reencontrar a sensação de pertença na terra da garoa.
Passei na capital paulista um mês e pouco sem uma conversa em polaco com pessoa em carne e osso. Gosto de aprender sem compulsão, mas não há melhor impulso de usar uma língua estrangeira que a necessidade. Foi em São Paulo onde aumentei a minha autoconfiança e comecei a falar com as pessoas estranhas na rua. Isto, com algumas exceções, a mais notável em Curitiba onde um empregado de bomba de gasolina elogiava os valores (as mulheres, para ser exato) do Norte durante a chuvada, não aconteceu antes. Até indiquei o caminho a desconhecidos algumas vezes. Ouvi também que o meu português (quase) não soava como a versão de Portugal – um cumprimento enorme depois das experiências no início da estada quando os gaúchos não podiam entender o meu sotaque europeu.
A música que referi antes merece um parágrafo separado. Realizei aqui um dos meus sonhos. Assisti ao show de Stevie Wonder que não costuma incluir a Polónia nos seus trajetos, mas tem um fraco pelo Brasil. Em São Paulo, porém, entusiasmei-me sobretudo com a música brasileira. Os mais significantes foram para mim as atuações de artistas como Caetano Veloso, Tom Zé, Ney Matogrosso e os Mutantes – todos com idade avançada e todos ainda relevantes na cena brasileira, ao lado de representantes da nova geração – Criolo, Emicida, Ellen Oléria. Só lamento que Jorge Ben, a lenda da MPB, tenha cancelado o seu show tão esperado.
A propósito, num sábado de janeiro entendi que os sebos são ótimos, mas nada se pode comparar com a Feira de Artes, Cultura e Lazer da Praça Benedito Calixto. É um mercado onde se pode comprar tudo, inclusive os sinais de trânsito.
Como a estadia foi longa, identifiquei, ao lado de benefícios, as desvantagens de morar em Sampa. A cidade é um paraíso para os privilegiados – pessoas com recursos, localizadas nos bairros mais desenvolvidos, perto do centro. A situação da maioria não é tão deslumbrante. O trânsito é um problema grave, mas ainda mais óbvia é a desigualdade entre os cidadãos. Os centros das grandes cidades brasileiras aos domingos ou feriados são parecidos uns aos outros. Os portões de bancos, os lugares de encontros da elite financeira ao longo da semana, estão ocupados pelos sem-abrigo.  

Aos fins de semana é também mais fácil notar os slogans rebeldes pintados nos muros de instituições públicas.




Essas observações facilitam perceber o êxito das músicas como "Não existe amor em SP" de Criolo que, na verdade, explica a situação em todo o país. O autor não toca no assunto do amor romântico, antes retrata a falta de cidadania, indiferença em relação aos outros. Nunca acreditei nos avisos que consideravam o Rio ou São Paulo as cidades diabólicas onde reinava a violência e o estupro. Pessoalmente, senti-me seguro lá e não sofri nenhum prejuízo. É contudo verdade que os problemas existem, estão enraizados na estrutura social e surgem cada vez mais óbvios. As pessoas começam a agir, lutar por sua causa. A Copa do Mundo e os Jogos Olímpicos podem afetar profundamente o país, mas não graças a feitos heróicos dos governadores. Ao contrário, por causa da falta de atividade construtiva e do abuso do poder pelos governantes o povo pode decidir que chega. Chega de saudade. Chegou a hora de reencontrar o amor.

Bartosz Suchecki
3º ano de Estudos Portugueses

NR: Para ler a segunda parte da crónica siga a ligação:Em busca do amor perdido (2)

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