Apetite por sangue


A moda dos vampiros conquistou o mundo. Ano após ano na cultura de massas aparecem cada vez mais livros, filmes, séries e ainda jogos de computador relacionados com estes bebedores de sangue. Às vezes, as pessoas têm medo de abrir o frigorífico, porque talvez não haja pessoa que não tivesse ouvido falar da saga “Crepúsculo”, a série “Sangue Fresco” ou de outros títulos como, por exemplo, “Os vampiros preferem as morenas”, “Como casar-se com um vampiro milionário” ou “Os vampiros e a cidade”. Não se sabe se devemos rir ou chorar...
     Antigamente um vampiro decente bebia só o sangue humano, tinha medo do alho e da cruz cristã, não podia passear durante o dia e de vez em quando transformava-se em morcego. Hoje em dia, os vampiros em vez do sangue preferem as bebidas alcoólicas ou são vegetarianos, à luz do sol brilham um pouco e sobretudo apaixonam-se pelas raparigas vivas. Que horror!
    Há 10 anos atrás só os admiradores fiéis ouviram falar de Bram Stoker (“O Drácula”) ou Anne Rice (autora da série “Crónicas Vampirescas”). Estes livros foram os mais próximos à mitologia eslava, da qual provém a crença nos seres que bebem o sangue humano. Na verdade, ainda hoje os admiradores dos vampiros não conhecem os clássicos da “literatura vampiresca” apesar de amarem estas criaturas. É pena que tão poucas pessoas conheçam a tradicional mitologia eslava, que tem mais sentido e é muito mais interessante do que o que nos serve a cultura popular americana.
    No decorrer dos últimos anos, muitas vezes um grande número de escritores de pouca qualidade ganharam fama mundial graças à descrição do amor entre um vampiro incrivelmente bonito  e uma rapariga normal e mortal. Este tema acertou em cheio no gosto de milhões de pessoas no mundo inteiro. Especialmente as adolescentes têm uma obsessão pelos vampiros e namoriscam com eles. As jovens, e às vezes até mesmo mulheres maduras, vêem na personagem do vampiro um ideal de homem apaixonado dos sonhos de cada uma. Na vida real, para elas é bastante difícil encontrar um homem bonito, inteligente, com sentido do humor e que pela mulher amada fizesse tudo. A única desvantagem deste “rapaz” é beber sangue, mas ao fim e ao cabo qual de nós não tem nenhum tipo de vício?
    É incrível que os psicólogos americanos notassem  que muitas mulheres romperam com os seus namorados porque eles não eram como o Edward (a personagem principal de “Crepúsculo”). Vê-se bem que a cultura de massas facilmente manipula os recetores e influencia-os. E os autores com prazer aproveitam esta situação criando novos filmes e livros de vampiros que há muito tempo perderam o seu caráter original e tenebroso. A cultura popular serve-nos o que queremos, sem dar importância à qualidade. No fim, o mais importante é o dinheiro. Infelizmente, ou talvez felizmente, a maioria dos escritores será esquecida assim que a moda dos vampiros passar.
    Hoje não há vampiros verdadeiros. E na verdade nunca houve. A personagem do vampiro é só um símbolo que esconde os nossos desejos ocultos. Antigamente queríamos sentir um frémito de emoção, agora procuramos um amor que dure eternamente. A cultura popular para ganhar dinheiro dá-nos tudo o que queremos. Isso pode ser um vampiro bonito, um lobisomem perigoso ou um zombi amigável. Basta decidir o que estará na moda este ano e o que vai partir  milhões de corações femininos. 

Agata Babiarz

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