O doce segredo de Portugal

No filme provocador  "A Grande Farra" de Marco Ferreri, quatro homens ricos decidiram suicidar-se por superabundância de comida. Numa cena, um chefe de cozinha prepara um pato em vinho do porto. A morte deles teria sido  mais agradável  se tivessem juntado ao  menu as sobremesas e doces portugueses.
A doçura do recheio cremoso, um pedaço de bolo frágil e aromático, uma côdea caramelizada, douradamente queimada - pastel de nata, uma fantasia em forma de bolo. O que é mais adequado à bica, galão ou meia de leite? Muitos portugueses responderiam que fica melhor um pequeno (e talvez pouco maior) pastel. As pastelarias adaptaram-se muito na paisagem da cidade. No interior e na esplanada estão sentados e conversam os amantes das experiência doces, bebem uma bebida de cor  de alcatrão e saboreiam bolos, biscoitos, sobremesas. Como dizem os italianos, la dolce vita , mas a vida portuguesa, tem um sabor doce das gemas, ovos, canela, caramelo, açúcar das colónias.
A doçaria portuguesa, na verdade, saiu dos mosteiros, para deliciar o sabor de portugueses e turistas de todo o mundo. No século XV as freiras começaram a criar bolos em grande escala. Como diz a tradição, usavam as claras para engomar hábitos e para a clarificação dos vinhos. Ficava muita gema, e porque naquela época apareceu nos mosteiros o açúcar da Madeira, as freiras espertas chegaram a uma idéia  genial de fazer os doces amarelos. Depois as receitas secretas penetraram nas casas de nobreza. Até hoje, muitos doces tem  nomes"divinos": papos de anjo, barriga de freira, toucinho do céu, pastel de Santa Clara.
O verdadeiro rei dos pastéis é o pastel de Belém. É uma variedade de pastel de nata, e realmente é difícil encontrar qualquer diferença no sabor. À força da tradição seduz muitíssimos gulosos. A Fábrica dos Pastéis de Belém guarda a antiga receita secreta da  preparação dos verdadeiros pastéis de nata - os Pastéis de Belém. Os mestres pasteleiros são os poucos detentores da receita, assinam um termo de responsabilidade e fazem um juramento em como se comprometem a não divulgar a receita.
No mundo de delícias portuguesas também os ovos moles de Aveiro ocupam um lugar importante. A massa de doce de ovos é envolvida em hóstia (massa especial de farinha de trigo), moldada nas diversas formas de elementos marinhos, como peixes, conchas e búzios, que são passados por uma calda de açúcar.
Outro bolo merecido e nobre é o pão de ló originalmente de Ovar. Tem o formato de uma broa, de massa muito leve e fofa. Na parte superior há uma finíssima côdea húmida, de cor levemente acastanhada, circundada por uma massa cremosa em tom amarelo-ovo. É tradicionalmente envolvido em papel de linho branco.
Não nos esqueçamos do arroz doce, iguaria tão simples, mas impressionante. Consiste de arroz, leite cremoso, cozido e mexido com gemas com um toque de canela e raspas de casca de limão. Uma coisa simples mas deliciosa. Pode-se enumerar sem fim os doces portugueses, mas o mais agradável é desfrutar do seu sabor. Nós vivemos para comer, então que esta vida seja doce: “La Dolce Vita".

Kamila Winnicka


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