Futebol – uma tradição moderna


Mesmo o título deste artigo merece explicação. Como é que uma tradição pode ser moderna? A tradição, pela definição, deveria lembrar-nos acontecimentos passados. Por isso, quando ouvimos esta palavra pensamos em festas nacionais, religiosas, danças que já ninguém conhece. Por outro lado, a idade da tradição (ou pelo menos a sua representação ou celebração) nem sempre é tão antiga como pode parecer. Um dos exemplos são as festas do Natal; têm 2000 anos, mas a forma na qual celebramos estas festas agora surgiu muito mais tarde. A árvore de Natal apareceu no século XVI. Do meu ponto de vista, a característica mais importante da tradição é o seu objetivo. Portanto, não vou perguntar “o que é a tradição?” A pergunta mais adequada será: “para que serve a tradição?”
   A resposta mais simples é a formação da nacionalidade e sentido da pertença. Através da tradição (que é mais antiga do que a escrita) construiu-se a identidade e o patriotismo, tudo o que juntou as pessoas em torno da fogueira ou da mesa. Tudo o que lhes deu o sentido de ter alguma coisa em comum. O que é que tem isto a ver com o futebol? Podemos chamar qualquer desporto uma tradição por cumprir os requisitos mencionados na introdução deste artigo. Além disso, os desportos nos quais se usa o pé para mover a bola já eram conhecidos há 2000 anos (p.ex. na China ou Roma os soldados praticavam-nos como uma distração ou tipo de exercício físico). Os adeptos juntam-se em grupos muito grandes graças à existência de clubes, como Benfica ou S.C. Olhanense[i]. Não se dirigem pela afinidade a nenhum jogador; o que junta essa gente é o sentido da pertença. Alguma coisa em comum: cores, canções, sítio onde se podem reunir. A tradição.
   A modernidade, por seu lado, quase sempre tem a ver com o dinheiro. O lado económico do futebol é bem visível. Basta mencionar, que Cristiano Ronaldo recebe por volta de 20 milhões de dólares por ano (a metade sendo paga pelos patrocínios como Nike, Coca-Cola ou Armani).  David Beckham, que se tornou numa verdadeira empresa, ganha 30-40 milhões se somarmos o salário, as publicidades etc. Quer dizer: mais de 90 mil dólares por dia... O futebol tornou-se na verdadeira religião nacional de Portugal, Itália, Espanha e muitos países mais. Como cada religião, tem os sacerdotes (jogadores), os seguidores (adeptos) e os templos: estádios. Os maiores na Europa, como Camp Nou ou Wembley, têm 90 000 lugares. No Estádio da Luz e no do Dragão cabem 65 e 50 mil pessoas respetivamente. Portanto, não é estranho que a organização de eventos desportivos seja uma boa oportunidade para os organizadores enriquecerem e fazerem um pouco de publicidade. É aqui que a economia mostra o seu lado obscuro. O Euro 2004 em Portugal atraiu um milhão de turistas. Construíram-se 10 estádios por 665 milhões de euros. Agora os estádios estão vazios, as cidades gastam muito dinheiro em mantê-los. Como será o Euro 2012 na Polónia?
   Cabe mencionar o papel do futebol na cultura popular. Os jogadores são objetos de culto. Vemo-los na televisão e na internet. Os adeptos sabem tudo sobre os casamentos e divórcios, todos os pormenores da vida pessoal dos jogadores. A página de Cristiano Ronaldo no Facebook tem quase 35 milhões de seguidores. A de David Beckham – 14 milhões. A de Leo Messi – 26 milhões. O futebol é uma tradição para as pessoas que vêm aos jogos. Vêm para cantar, divertir-se, ver os jogadores mais dotados e passar tempo com outros adeptos. Da sua graça depende a sorte dos jogadores, a sua riqueza e fama.

[i] Uma vez que A Redação é inteiramente vermelha, assume a responsabilidade total na alteração do texto substituindo o nome de uma conhecida agremiação do norte por outra igualmente conhecida do sul.
*Este texto faz parte do artigo apresentado no Congresso dos Estudantes Lusitanistas da Polónia, intitulado Tradição e Modernidade - Portugal e Lusofonia que decorreu no Instituto de Camões em Lublin.

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