Ribas na Costa, Praia da Maças
Dizem que ao princípio
havia o caos. Depois o Criador separou a terra da água
o que foi o primeiro passo. Com certeza absoluta o lugar onde o mar acaba e
começa a terra tem algo místico,
maravilhoso e até divino na sua natureza. Tanto a costa ocidental, como
a meridional de Portugal deslumbram multidões com a sua beleza
irresistível. Desde há séculos que as paisagens marítimas
inspiram os autores de todos os ramos da arte. Na parte central da costa
ocidental, perto da cidade de Sintra fica uma praia da beleza empolgante, a
Praia das Maças. Em Lisboa no Museu do Chiado, chamado também o
Museu Nacional de Arte Contemporânea encontra-se uma obra de Alfredo Cristiano
Keil, o grande músico, pintor e poeta português
de ascendência alemã da segunda metade do século
XIX. O artista mais conhecido como o autor da música
de “A
Portuguesa” que se tornou o hino nacional de Portugal. Um dos seus melhores
quadros, “Ribas na Costa, Praia da Maças” (http://www.matriznet.imc-ip.pt/MatrizNet/Objetos/ObjectosConsultar.aspx?IdReg=202372) pintado no ano 1880
podia ser um bom retrato do ato de criação do mundo. Ao olharmos para esta pintura a óleo, reparamos um
ponto do encontro do mar, da terra e do céu… três elementos básicos e
poderosos. A vista traz uma dose de equilíbrio, graças às cores usadas pelo
artista. O leque das cores é bastante limitado, dominam o azul, o verde e a cor
da cinza… mas a obra estranhamente emana com o calor sutil. A falésia verde e pura com as ondas selvagens
que batem na praia rochosa formam o plano principal da obra. Basta esforçar a
vista e podemos ver a figura do homem de chapéu sentado na falésia. Se pudéssemos diminuir a
velocidade estonteante da nossa vida e respirar profundamente, há quem não
queira estar no seu lugar? Hoje em dia sonhamos muito com coisas que nem
merecem a nossa atenção. O homem de chapéu não está preocupado com as
ninharias. Comparando com a eternidade tudo parece uma ninharia. A eternidade
consiste no tempo, espaço e na matéria. Ele nem tem pressa, nem medo do futuro.
Enfeitiçou a matéria e parou o tempo. O
homem de chapéu… está a observar as ondas ferozes, a espuma na água como a saliva de uma besta que se
opõe ao céu tão calmo e limpo naquele momento. Neste momentinho particular ele
converte-se no Senhor do mundo inteiro, o Criador que olha à sua obra e talvez
se orgulhe da beleza enorme que inventou. A perfeição da natureza faz da praia
o lugar excelente para contemplar. O que me interessa são os pensamentos deste
homem. O que sentiria cada um de nós se formasse parte desta obra? E que sentiu
o próprio autor ao pintar esta paisagem? Se calhar o autor da obra queria
adivinhar com a figura do homem um pouco da saudade à sua obra. O que eu sinto
quando vejo esta porta do mundo é o prazer e o alívio. Onde está o homem? O
homem está onde a terra acaba ou começa.
Esteja onde estiver, tem sorte de estar tão afastado do caos.
Olga Kukawka
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