A língua da cooperação

            A crise económica deixou milhares de portugueses sem trabalho – a taxa de desemprego em Portugal superou os 13%. Nesta situação cada vez mais pessoas procuram emprego fora do seu país, muitas delas nas antigas colónias portuguesas. Ao contrário das ondas de emigração anteriores, agora emigram sobretudo pessoas altamente qualificadas. O destino principal é o Brasil, que está experimentando o crescimento da construção, pois sendo o país-anfitrião do Mundial 2014 e da Olimpíada 2016 precisa dos especialistas de vários setores, principalmente dos engenheiros e arquitetos. Também as ex-colónias africanas são ultimamente destino dos emigrantes portugueses, sobretudo Angola e Moçambique que se desenvolvem rapidamente e necessitam profissionais para criarem  infraestruturas. Assim existe um enorme mercado lusófono de trabalho e os portugueses têm oportunidade de emigrar sem temor de problemas na comunicação, já que podem falar na sua própria língua.
            Por esse mesmo fator a maioria dos imigrantes em Portugal vem dos países africanos de língua portuguesa. Para ajudá-los o Estado Português criou o Centro Nacional de Apoio ao Imigrante e recebe mais de 700 pessoas por dia, oferecendo-lhes informações sobre a vida no país. Além disso, Portugal apoia os Países Africanos de Língua Oficial Portuguesa (PALOP) e Timor Leste no seu desenvolvimento, concedendo-lhes créditos (emprestou-lhes já perto 1.800 milhões de euros) e cofinanciando vários programas, por exemplo o Projeto Apoio ao Desenvolvimento do Sistema Judiciário PIR PALOP.
            Mas a cooperação entre os países lusófonos não é só económica. Todos eles colaboram para preservar a língua portuguesa. Há 15 anos formaram a Comunidade dos Países de Língua Portuguesa (CPLP) com o objetivo de integrar os territórios lusófonos e promover o seu idioma. Além disso, tentam reforçar a sua presença no cenário internacional e cooperar em vários domínios, como saúde, ciência e tecnologia, justiça, desporto, cultura e educação, entre outros.
            A cooperação e o apoio mútuo na área de educação constituem também o fim principal da Universidade da Integração Internacional da Lusofonia Afro-Brasileira (Unilab). Essa instituição surgiu na cidade brasileira Ceará só no ano passado, mas já se educam ali 180 estudantes – a metade deles dos países africanos. Deste modo o Brasil participa na integração de estudantes lusófonos. Essa idéia é muito popular nos últimos tempos. Fundam-se diversas instituições que propagam o intercâmbio de investigadores e estudantes, bem como o intercâmbio de informação entre centros de aprendizagem lusófonos. Uma dessas organizações é a Associação das Universidades da Língua Portuguesa (AULP).
            Para preservar e popularizar essa língua surgiu em São Paulo o Museu da Língua Portuguesa, que combina arte, tecnologia e interatividade para apresentar aos visitantes vários aspetos do idioma, suas origens, história e influências sofridas. Também promove cursos e seminários sobre a língua portuguesa e suas diversas áreas de influência.
            O português é um idioma com mais de 200 milhões de falantes e que ultrapassa as fronteiras nacionais. Mesmo que se notem as diferenças na pronúncia, gramática e no vocabulário, tanto os portugueses, como os habitantes de outros países lusófonos podem comunicar-se uns com os outros sem maiores problemas. Todos eles esforçam-se para conseguir um espaço lusófono unido, para que todos os falantes de português possam sentir-se em casa fora das fronteiras do próprio país, como se tivessem várias pátrias. Ou uma grande, de acordo com a frase de Fernando Pessoa: “Minha pátria é a língua portuguesa.”

Katarzyna Kłodnicka

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